sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Predestinação e livre arbítrio

Estamos diante de um tema de difícil explicação, e a razão pelo qual é complexo se dá pelo fato de que ambas as posições são escriturísticas. O assunto tem sido objeto de discussão através da história do cristianismo a mais de dois mil anos, e hoje tem sido para nós um grande desafio. Os teólogos chamam estas interrogações de antinomia. Isto acontece quando duas doutrinas bíblicas parecem discordar uma da outra. 

O obstáculo notório é que na Bíblia existe uma coleção de versículos afirmando que Deus é soberano para escolher quem ele quer. Ele escolheu, predestinou, elegeu. Em sua soberania ele tem seus escolhidos desde a fundação do mundo (Rm 8.29; Ef 1. 4-5,11; Rm.9. 6-29; 1Pe. 2.8; Jd 4; 1 Pe 1.2,20. Nas palavras de Jesus esta verdade é confirmada: Ninguém poderá vir a mim, se, pelo pai, não lhe for concedido (Jo. 6.65; 6.44; 10.25-28).

Por outro lado, encontramos vários versículos que afirmam o contrario e diz que o homem deve se arrepender, e, portanto é responsável pelos seus atos. Deus é paciente em esperar nosso arrependimento (2 Pe. 3.9), é possível rejeitar a salvação (Mt. 23.37), temos o livre arbítrio pra ouvir ou não a sua voz e arrepender-se (Ap. 3.20). Leia também: Lc 15.7; Ap.16.9; Ap.16.11. 

Sua soberania é indiscutível porque esta verdade esta explicita em toda a Bíblia. Ele é o Deus todo poderoso e soberano sobre todas as coisas. Tanto o homem como todas as coisas que foram criadas têm como propósito glorificar o Deus de toda a eternidade porque tudo foi feito por ele e para ele, e, portanto ele é indiscutivelmente soberano para escolher quem ele quer.

O homem por sua vez deve arrepender-se de seus pecados, reconhecer sua condição de pecador, sua depravação. Sua responsabilidade está em retornar para Deus numa atitude de humilhação e arrependimento sincero. Deve ouvir a voz de Deus (Ap.3.20), Aceitar a salvação (Mt.23.37) e atender a perspectiva de Deus quanto ao arrependimento.

O tema predestinação e livre arbítrio têm levados vários estudiosos da Bíblia a trilhar no caminho perigoso do extremismo. O hipercalvinismo e o arminianismo extremo tomam posições radicais não deixando espaço para uma análise mais equilibrada das escrituras.

O primeiro afirma que Deus já tem seus escolhidos desde a fundação do mundo e, portanto não há necessidade de evangelizar. Deus haverá de salvar os seus. O Hipercalvinismo não admite a ideia da responsabilidade humana dogmatizando a doutrina da predestinação.

A segunda diz que o homem deve buscar e se esforçar para receber a salvação, não crê na depravação total do homem, não admitindo a ação exclusiva de Deus quanto à salvação dos perdidos. 

Não optando pelos extremos, entendemos que o assunto deve ser analisado com prudência e humildade, pois ambas são escriturísticas. Como já dissemos, a soberania de Deus é indiscutível, mas algumas questões difíceis de explicar precisam ser colocadas aqui.

Primeiro, como Deus pode escolher a uns e desprezar a outros, visto que as escrituras diz que Deus não faz acepção de pessoas (Mt.11.28; Jo.17.20; 6.39) ? Seria pela sua presciência, sabendo quem haveria de aceitar a Cristo (arminianismo), ou pela sua soberania escolhendo quem ele quer (calvinismo)?

Segundo, e o que dizer do caso de faraó onde as escrituras nos informa que num momento Deus endurece seu coração, mais adiante o rei por sua própria vontade endurece o seu coração (Ex. 9; 12; 8:15). Soberania de Deus e livre arbítrio se misturam no caso de faraó? Difícil de responder.

Não há outro caminho a trilhar se não o do equilíbrio (Pv.3.21). Creio na possibilidade de unir duas verdades bíblicas que parecem divergir uma da outra num paradoxo. Não podemos exaltar uma doutrina em detrimento da outra, ambas são como duas linhas que correm horizontalmente lado a lado e que se encontram no final. Como diz o Dr. Augustus Nicodemus, são como dois trilhos de trem que seguem no sentido horizontal e depois desaparecem. Não sabemos o destino, somente no final.

Olhando por esta janela, podemos crer que Deus é soberano para predestinar, eleger, escolher e até rejeitar quem ele quer, mas por outro lado, o homem é responsável pelos seus atos. É desafiado a buscar a Deus. Deve arrepender-se de seus pecados, crer em Jesus e aceitá-lo como Senhor e Salvador de suas vidas. Certamente o mistério que atravessa os séculos será revelado na eternidade, pois como diz o apostolo Paulo: Conhecemos em parte, mas na sua vinda o que está oculto será revelado (1 Cor. 13. 8-12).

Portanto, Deus é soberano e tem os seus escolhidos desde a fundação do mundo, no entanto a escritura anuncia a todos os homens que se arrependam e se convertam dos seus maus caminhos (Mt 4:17;Mc 1:15;At;2:38;At:17:30).

Por Marcos Aurélio dos Santos