terça-feira, 27 de novembro de 2018

Marxismo e cristianismo são conceitos incompatíveis

O escritor Felipe Lemos, utilizou o portal oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia para escrever uma mensagem clara e direta contra a ideologia marxista.
“Em um de seus escritos, Marx afirmou que a “religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo”. Seria uma visão da religião como uma fuga do ser humano das suas responsabilidades?”, disse a nota.

“A aversão de Marx pela religião (de modo geral), e pelo cristianismo (de modo particular), se dá pelo fato de ser um obstáculo à implementação de sua utopia. Por isso, usou de dois artifícios intelectuais para ridicularizá-la.

O primeiro foi dizer que a religião era algo inventado pelos ricos para aliviar o sofrimento causado pelo capitalismo sobre os pobres. Em segundo lugar, foi alegar que essas ideias eram falsa consciência imposta pela classe dominante para defender e perpetuar a propriedade privada.

É no primeiro sentido que Marx via a religião como fuga das responsabilidades. Marx tinha uma maneira ruim de tratar seu leitor: ao passo que, por um lado, queria “abrir seus olhos” para a “verdade” dizendo que a religião era uma armadilha da classe dominante, acusava o proletário de ser um iludido, na pior acepção do termo, provocando-o a abandonar a fé. Assim Marx tratava a classe pela qual ele desejava realizar a revolução”, explica.

Ao responder ao questionamento se os cristãos podem conciliar as ideias marxistas com as crenças bíblicas, a Igreja Adventista do Sétimo Dia responde:

“Cristianismo e marxismo são duas coisas opostas entre si, impossíveis de serem conciliadas. As diferenças começam pela criação: a Bíblia mostra que Deus é o Criador do homem, ao passo que, para Marx, foi o homem quem construiu a ideia de Deus”.

Leia a nota completa:

Sim, é necessário que as organizações religiosas se manifestem contra o Marxismo. Pois, como mo bem disse Thiago Oliveira, do blog Electus, se nós somos cristãos e temos os nossos pressupostos baseados na Escritura, logo, não podemos abraçar uma doutrina concorrente ao cristianismo. Ainda mais quando esta corrente enxerga a religião, ou melhor, a metafísica como sendo um produto da opressão, uma vez que os oprimidos a inventaram como um entorpecente que alivia a dor (ópio).

A doutrina cristã não foi fabricada. Ela é a revelação de Deus por meio do seu Filho, trazendo boas novas de salvação. Daí entendemos o porquê do Cristianismo sempre ser perseguido nos regimes marxistas.

Para o cristão, as desigualdades e injustiças econômicas são fruto do pecado e o único capaz de curar esse mal é Jesus Cristo. Mas a promessa de um mundo sem dor e sem lágrimas está no porvir (Ap 21.4). Ora, isso frustra os marxistas que pregam o Reino dos Céus na terra, algo que não funcionará enquanto o pecado dominar o coração humano.

Tanto as sugestões marxianas como as de qualquer outra ideologia que busque o fim da pobreza não serão bem-sucedidas neste mundo corrompido. Podemos ter uma agenda política que pregue uma melhor distribuição da riqueza nacional, ou o Estado do bem-estar social. Podemos criar programas de microcrédito e de transferência de renda. Podemos ver o incentivo estatal e privado na educação profissionalizante.

Seja qual for, como observa Aaron Armstrong, “[…] essas soluções estão tratando os sintomas, não a causa; estão podando os galhos, não desenterrando a raiz. A questão principal por trás da pobreza é o pecado”.

Algumas dessas ideias podem até minorar muitos males, mas não acabarão definitivamente com a injustiça e opressão existentes na sociedade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Economia e Política na Cosmovisão Cristã: Resenha

Contribuições para uma teologia evangélica

A Obra é uma espécie de tese mesclada com conferência, trazendo fortes apontamentos através de conceitos e experiências de estudos e pesquisas. O autor mesclou parte do livro com a palestra proferida por ele em março de 2016 no 10º Congresso de Teologia Vida Nova.

O que impressiona nesta obra é o conteúdo altamente rico no sentido de orientar e apontar como deveriam ser as questões políticas de uma sociedade e o comportamento de um congressista (entenda-se qualquer tipo de político), como deve agir e realizar seu mandato, com bases não denominacionais, mas somente éticas e morais segundo o que a Bíblia mostra clara e objetivamente.

A combinação traz pontos estratégicos também apontados durante a publicação de um livro referente a apresentação ao Congresso Americano em Washington, DC,EUA. Os capítulos 1, 2 e 3 tratam assuntos diretamente relacionados a questões morais e éticas da política e do cidadão como um todo, foi desenvolvido e trabalhado por Wayne Grudem, já os capítulos 4 e 5 do livro foram desenvolvidos partir da união de Grudem com Barry Asmus.

Me perdoem, como resenhista sei que não é muito ético apresentar minha visão particular, mas o conteúdo desta obra realmente me impactou, caso eu fosse alguém que tivesse boa situação financeira, enviaria um exemplar a cada vereador, prefeito, deputados, ministros e todas outras autoridades do Legislativo e Executivo de todo o território Brasileiro, ou se eu fosse alguém influente nas questões políticas, tornaria a leitura deste livro uma questão obrigatória antes de receber o mandato político ou administrativo aqui no Brasil.

As 128 páginas do livro estão divididas em 5 bons capítulos. O primeiro deles: Por que os cristãos devem influenciar positivamente o governo? O Autor traz a tona uma de suas experiências, realizada em 2016 em um evento da Vida Nova, aqui no Brasil e desenvolve todo um pensamento bíblico a respeito de politica e do que é verdadeiramente servir e ser um representante Cristão nos cargos públicos. Fala também sobre economia e política abertamente, sempre apontando e comparando com exemplos de cristianismo mostrados e relatados nos textos bíblicos. O mais interessante de tudo é que justamente os dois primeiros capítulos parecem uma espécie de resumo contextualizado não somente de conceitos de ética moral, mas trazem todo um pensamento e apresenta ainda, as ideias equivocadas que os evangélicos e igrejas possuem a respeito de política. Existe uma solução bíblica para isso, e é justamente nesta concepção que acontece todo o trabalhar no livro.

O Capítulo 2: O Papel do governo na regulação do mercado e desigualdade econômica. O autor aborda este papel governamental defendendo a economia de livre mercado. Textos bíblicos apontam advertências contra governos que tomam para si o que por direito legítimo pertence às pessoas, ensinando que a propriedade destes bens é, em geral, individual e não do Estado.

O capítulo 3: É correto o cristão participar de atos de desobediência civil, protestos públicos e tentativas de mudar o governo em situações específicas? Por meio de exemplos tanto do Antigo testamento quanto do Novo, o autor argumenta que homens e mulheres tementes a Deus desobedeceram às autoridades civis em submissão ao Senhor. Apresenta algumas aplicações ao citar exemplos de fatos recentes ocorridos nos EUA, nos quais cristãos corajosos desobedeceram ao Estado quando este lhe exigiu violação das leis de Deus, entendendo assim claramente que o mais importante de tudo na vida é submeter-se ao Senhor e não aos homens.

Já no penúltimo capítulo, 4, Direitos de propriedade inerentes ao oitavo mandamento são necessários para a prosperidade humana, existe todo um trabalho realizado em cima do foco e tema do livro. Os autores, até aqui, apontam como o direito à propriedade privada implica certas responsabilidades individuais, visto que os seres humanos são administradores de bens que pertencem, em última instância, ao próprio Deus (baseado em entendimento bíblico dos textos de Salmos 24 em diante).

O último capítulo: Qual o risco para o negócios se perdermos uma cosmovisão cristã? O que é apontado no encerramento da obra é que existe sempre algo porvir e que virá, que existe consequências para cada atitude ou ação, e o povo cristão precisa conhecer e estar preparado a assumir cada qual com suas devidas colocações. Basicamente, os autores apresentam cinco grandes convicções que podem ser perdidas caso estes cristãos não se deixem influenciar a sociedade com os padrões do divino. Em outras palavras, é mostrado biblicamente quais as crenças para cada situação dentro do cenário político e econômico de todo um país, onde o resultado do abandono ou distanciamento destas crenças ou convicções para os negócios e para a sociedade será a total desintegração e destruição decorrentes de maior intervenção estatal e da falta de valor do trabalho.

Todo o livro e a excelente obra, parece que tem muito (ou pelo menos deveria ter) com o Brasil e com os políticos que aqui teimam em querer fazer suas regras, suas posturas e seus próprios legados egocêntricos, deixando totalmente os interesses do povo e da sociedade para atenuarem, trabalharem apenas em interesses próprios e egocêntricos.

É preciso urgente que todos os cristãos (independente de qualquer credo denominacional) comece a atuar conforme os princípios bíblicos e proclamem esses princípios à sociedade, a fim de que a cosmovisão bíblica leve as pessoas a ser mais produtivas e a expressar amor ao próximo por meio de seu trabalho.

Realmente, no ensejo, a qualidade e o conteúdo desta obra me causou momentos de impactos profundos e de reflexões acerca do nosso querido Brasil. Está tudo muito nítido (só não enxerga quem não quer ver) que a Bíblia é objetiva quanto a política e a economia, não somente corrigindo mas principalmente relatado através de passagens pelos livros sagrados que é possível reconhecer a Deus (O Cristo vivo) em uma política e assim obter por meio deste reconhecimento, resultados incríveis e positivos a toda uma sociedade e consequentemente contagiar todo um País com o amor, o respeito e o cristianismo verdadeiro.

No mais, gostei bastante da leitura e indico não somente para indivíduos ou pessoas que pretendem ingressar num cargo político ou administrativo, mas todas as pessoas que exercem já algum tipo de influência (direta ou indiretamente) na posição que ocupa em seu trabalho com municípios, organizações não governamentais, entidades, prefeituras, conselhos e por ai adiante.

Sua leitura é bem fácil, não possuem textos complicados ou carregados de termos técnicos, todo entendimento se faz através da interpretação que os autores deram aos estudos dos princípios ético, morais e políticos através da leitura da Bíblia e seus ensinamentos. Tanto a igreja de Cristo como as igrejas locais, precisam se atentar aos fatos do que está acontecendo no cenário político e econômico do local, cidade ou região que se vive. Ao invés de uma postura omissa em relação ao governo, somos todos desafiados, com base nas Escrituras e em exemplos históricos, a influenciar a política e as leis, contribuindo para a justiça e a paz na sociedade em que vivemos.

Segue com uma boa recomendação de leitura que agregou a mim uma visão mais direcionada do que Deus quer que façamos nestas situações e posições quando ocupamos.

Por Carlos Xandelly

terça-feira, 9 de outubro de 2018

A polarização nunca vai acabar

Se ouvíssemos Marina Silva, entenderíamos que a polarização acabou e veríamos como é possível viver juntando o melhor da esquerda e da direita. O problema é que Janaína Paschoal teve muito mais votos que Marina Silva. Janaina teve mais de 2 milhões de votos e Marina cerca de 1 milhão.

Por que biblicamente a polarização nunca acabará? Simples: porque desde o princípio dos tempos, a humanidade se divide entre Caim e Abel. Acreditar na terceira via é como acreditar que Caim e Abel poderiam superar diferenças e viver em paz.

O problema é que Deus tem lado nessa briga, e o diabo também. Quando Caim matou Abel, Deus levantou a Sete como substituto de Abel, e não como síntese hegeliana.

O cristão precisa entender isso. A Bíblia sempre vê a História como esse confronto entre os filhos de Caim e os filhos de Abel. Isaque e Ismael, Esaú e Jacó, José e seus irmãos, Moisés e Coré, Davi e Eliabe, Salomão e Adonias, Jesus e seus irmãos incrédulos.

Nosso papel não é pregar o fim da polarização por meio da síntese dos dois lados. Nosso papel é pregar o fim da polarização por meio da vitória dos filhos de Abel. É dizer aos filhos de Caim que se submetam ao culto que agrada o Deus de Abel enquanto há tempo para se arrepender. Os pastores hipster marineiros precisam entender isso.

Votos Marina Silva:
https://g1.globo.com/…/eleic…/2018/apuracao/presidente.ghtml

Votos Janaina Paschoal:
https://www.oantagonista.com/…/campanha-de-janaina-custou-…/

Helder Nozima


domingo, 30 de setembro de 2018

Um convite aos cristãos

“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2:1-4)


Nesta semana, convido-os a separar um dia para jejuar pelo nosso País e pelas eleições. Não jejue apenas pelo Presidente correto. Jejue pelos que serão eleitos para o Congresso. Jejue pelo seu Estado e pela sua Assembleia Legislativa. Jejue pedindo a Deus que derrame sua graça sobre o Brasil e sobre a Igreja.

Sempre falei de Jesus claramente aqui. E lembro que é Jesus o único que pode salvar o Brasil de si mesmo. Pela Bíblia, o Brasil merece algo pior que a Venezuela. Todos merecemos o inferno. É apenas a graça de Cristo que nos dá emprego, saúde, paz e tudo o mais.

Como reformado, acredito que o Antigo Testamento não é outra aliança. O Novo Testamento é apenas a realização do Antigo. E o que aprendemos no Antigo Testamento é que Deus abençoa os países e governantes que buscam a Ele e se esforçam em guardar a sua Lei. Quando a Lei de Deus é desprezada, os juízos se multiplicam. O fator de sucesso não é a boa gestão da economia e nem o tamanho do Estado, mas sim o temor a Deus e a obediência a Ele.

O Ocidente de um modo geral tem se afastado de Deus e de sua Lei. O Brasil não é exceção. Ore para que Deus aja no coração do nosso povo e de nossos príncipes para que nos arrependamos e voltemos a Ele.

Ore também pela Igreja brasileira. As igrejas evangélicas brasileiras precisam de purificação. A Teologia da Prosperidade, a hipocrisia do evangelho de aparências e o legalismo são abominações que abundam em nosso meio. A Palavra tem sido mal pregada e mal exposta, inclusive no meio reformado. Há pouca oração verdadeira e tem faltado amor verdadeiro também. Nossos conceitos de justiça são mais seculares que bíblicos. Falta coragem pra confrontar os pecados em nosso meio.

Se o Brasil é impuro, talvez estejamos como o sal insípido, que só serve pra ser pisado pelos homens. Ore para que o arrependimento, a confissão e o choro comecem no meio da Igreja.

Jejue e ore. Os príncipes são nada diante de Cristo. Busque a bênção do Rei dos Reis.

Por Helder Nozima

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O comunismo, ou socialismo, é satânico por natureza

As expressões “comunismo” e “socialismo” recebem significados nem sempre muito precisos. Numa explicação bem resumida, daria para dizer que, segundo a teoria marxista, o socialismo é uma etapa para se chegar ao comunismo. Este, por sua vez, seria um sistema de organização da sociedade que substituiria o capitalismo, implicando o desaparecimento das classes sociais e do próprio Estado. “No socialismo, a sociedade controlaria a produção e a distribuição dos bens em sistema de igualdade e cooperação. Esse processo culminaria no comunismo, no qual todos os trabalhadores seriam os proprietários de seu trabalho e dos bens de produção”, diz a historiadora Cristina Meneguello, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Portanto, o comunismo é uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum dos meios de produção.

O comunismo já causou a morte de mais de 100 milhões pessoas através da fome, massacres políticos e genocídio. Criou sociedades em que o poder se concentra nas mãos de um pequeno grupo que escraviza nações inteiras e onde os campos de matança, gulags e campos de reeducação através do trabalho tornam-se parte da vida quotidiana.

Mas os fracassos econômicos, os assassinatos em massa e as nações escravas criadas pelo comunismo não são os maiores crimes desse sistema.

O maior crime do comunismo é a destruição da alma humana.

O objetivo-chave do comunismo é desmoralizar as sociedades: destruir a cultura, a religião e os valores básicos de qualquer sociedade em que ele toca.

Esse objetivo está claramente exposto no “Manifesto Comunista”, onde Karl Marx e Friedrich Engels escreveram em 1848 que o comunismo procura “abolir toda a religião e toda a moralidade”.

O mais assustador para uma pessoa é a destruição da fé, da crença e da moralidade. Na Bíblia, o Livro de Mateus estabelece: “E não temais aqueles que matam o corpo, mas a alma não podem matar; temais quem pode destruir a alma e o corpo no inferno”.

Temos visto repetidamente que o objetivo do comunismo é destruir a alma da Humanidade.

Quando a fome varreu a Rússia em 1921, depois que o ex-líder soviético Vladimir Lênin ordenou que fossem confiscadas todas as sementes dos camponeses, entre 5 e 10 milhões de pessoas morreram de inanição. Segundo o “Livro Negro do Comunismo,” a resposta de Lênin foi que a fome foi boa para o movimento comunista, porque “a fome destruiu a fé não somente no czar, mas também em Deus”.

Embora o comunismo use várias máscaras, e até tente convencer as pessoas de que suas intenções são boas, a influência de suas verdadeiras raízes sempre pode ser vista. E embora o comunismo pareça ser ateu, muitos de seus fundadores, incluindo Marx, não o eram. Eles tinham crenças satânicas.

O pregador romeno Richard Wurmbrand, que foi encarcerado sob um regime comunista, documentou muito desta história em seu livro “Marx e Satã”.

Um exemplo é Mikhail Bakunin, um dos sócios de Marx na Primeira Internacional, que escreveu: “O Mau é a revolta satânica contra a autoridade divina, revolta em que vemos o germe fecundo de todas as emancipações humanas, a revolução. Os socialistas se reconhecem mutuamente pelas palavras “em nome daquele que foi muito prejudicado”.

Ele também declarou: “Nesta revolução teremos que despertar o Diabo nas pessoas, para despertar as paixões mais baixas. Nossa missão é destruir, não construir”.

O satanismo de Marx é evidente em seus primeiros escritos. No poema “Invocação de um desesperado”, ele escreveu que “construiria [seu] trono nas alturas”, e continuou: “Em uma cimeira imensa e fria/por seu baluarte — supersticioso espanto,/Por seus agentes — a mais negra agonia./Quem olhar para ele com olhos sãos, retornará mudo, com palidez mortal;/ Nas garras da mortalidade cega e fria./Que sua felicidade prepare seu túmulo!”.

No poema de Marx “O violinista”, ele escreve: “Os vapores infernais sobem e enchem a mente/até que enlouqueço e meu coração está completamente mudado”, e “Você vê esta espada? O Príncipe das Trevas vendeu-o para mim”.

Em seu livro de 1968 “Marx”, o biógrafo Robert Payne escreveu que Marx “tinha uma visão do mundo como a do Diabo e a malignidade do Diabo. Às vezes, ele parecia saber que estava cumprindo o trabalho de maldade”.

Também podemos mostrar através dos principais dogmas do comunismo que ele é satânico por natureza. Isto remonta ao materialismo dialético, que Joseph Stalin descreveu em 1938 como “a perspectiva do partido marxista-leninista”.

O Satanismo trabalha invertendo valores dentro do sistema cristão. O materialismo dialético funciona invertendo os valores de todas as crenças tradicionais em todos os sistemas religiosos retos. Ele trabalha com três princípios para identificar, contradizer e eliminar o ponto médio. A inversão de qualquer valor tradicional se converte na agenda que impulsiona o comunismo e usa essas inversões das tradições e da moralidade para fazer a sociedade entrar em luta, de modo a usar esta luta para destruir os valores que existem dentro dessa sociedade.

O Papa Pio XI escreveu em 1937 que, sob esse sistema, o comunismo tenta “aguçar os antagonismos que surgem entre as várias classes da sociedade”. Usando isso, ele disse, os comunistas criam a luta de classes para criar ódio violento que possa impulsionar sua agenda sob a falsa bandeira de “progresso”.

O comunismo não é apenas um sistema político ou econômico. Suas formas existem dentro de muitos movimentos projetados para destruir nossos valores, nossas tradições e nossas crenças. É um espectro, como Marx descreveu, que visa destruir a Humanidade.
Pôster de propaganda russa do movimento anti-bolchevique de 1919 mostra os líderes comunistas Lênin, Trotsky, Kamenev, Radek, Sverdlov e Zinoviev sacrificando um personagem alegórico representando a Rússia para uma estátua de Karl Marx 

Por Joshua Philipp, Epoch Times

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Imunização cognitiva

Hoje é dia do Psicólogo. Parabéns! Segue um texto apropriado para esta época das eleições e interessantíssimo sobre psicologia das massas.

Os estudiosos explicam com a imunização cognitiva.

Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, raciocínio, memória, juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo.

A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância.

E então assistimos gente com estudo, inteligente, articulada, que sabemos que não está tirando nenhum proveito material, defendendo em público o indefensável. Como é que essas pessoas chegam a esse ponto?

Bem, existem ao menos cinco fases no processo de imunização cognitiva.

Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.

Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo.

Terceira fase: conexão dos credos a emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do "se você pecar, vai para o inferno"? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo...

Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes.

Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito "não vai ter golpe", por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment.

Os especialistas em psicologia das massas sabem que nossas mentes evoluíram muito mais para proteger nossos credos que para avaliar o que é verdade e o que é mentira. E os especialistas em comunicação constroem retóricas fantásticas, com intenção de desviar o tema principal e, especialmente, imunizar cognitivamente os soldados da causa.

E aí, meu caro, minha cara, não adianta mostrar o vídeo, o recibo, o cheque, o testemunho do caseiro, a ordem da transportadora, o grampo telefônico... O imunizado cognitivo está vacinado contra fatos objetivos.

Naturalmente esse "torpor cognitivo" não se restringe ao campo politico, social, econômico ou religioso. Ele perpassa todas as áreas da vida humana e faz, por exemplo, que uma pessoa acredite, mesmo contra a razão, que o Brasil é o melhor lugar do mundo, que o palmeiras é campeão mundial, que o capitalismo é o responsável por todos os males do mundo, que chá de boldo cura o câncer e por aí vai.

Tá explicado então? Se você está se sentindo entorpecido das ideias, incapaz de descer do muro, provavelmente alguém está lhe ministrando umas doses de imunizante cognitivo.

E você nem percebeu que está.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Teologia da libertação versus teologia bíblica



Libertação e justiça são temas populares na esfera pública. E os cristãos devem se interessar por tais temas. Nós fomos libertos e sabemos que Deus é justo.

Mas o que a Bíblia quer dizer ao falar sobre ser liberto? E sobre buscar a justiça?

Algumas vozes na igreja construíram paradigmas teológicos inteiros a partir desses temas, aplicando-os à sociedade como um todo. Considere afirmações como as seguintes:

[…] A única razão de ser [da teologia cristã] é apresentar em um discurso ordenado o significado da ação de Deus no mundo, para que a comunidade dos oprimidos reconheça que a sua sede inata por libertação não é apenas consistente com o evangelho, mas é o evangelho de Jesus Cristo.

A construção de uma sociedade justa tem valor em termos do Reino, ou, numa fraseologia mais comum, participar do processo de libertação já é, em certo sentido, uma obra salvífica.[1]

Essas assertivas foram feitas por James Cone e Gustavo Gutierrez, respectivamente. Ambos tiveram papéis influentes no desenvolvimento da chamada Teologia da Libertação na América do Norte e do Sul na segunda metade do século XX. A partir dos conceitos sociais de raça e classe, Cone e Gutierrez construíram sistemas teológicos que seriam, ao fim, adotados por cristãos protestantes na América do Norte, predominantemente em igrejas afro-americanas, e segmentos da Igreja Católica na América Latina.

Para avaliar e responder a propostas como essas, os pastores precisam da teologia bíblica.

Afinal, a teologia da libertação se estendeu hoje de modo a servir a uma miríade de outras causas – do feminismo à homossexualidade e ao ambientalismo. O objetivo deste artigo não é discutir essas ramificações contemporâneas, mas colocar uma teologia bíblica evangélica em diálogo com a teologia da libertação, como um estudo de caso para aprendermos como a teologia bíblica protege e fortalece as igrejas na sã doutrina.

O que a teologia bíblica tem a dizer…

Em um sentido genérico, teologia bíblica é simplesmente teologia derivada da Bíblia. E, embora esse compromisso certamente seja necessário para se chegar à verdade sobre Deus, muitas molduras teológicas – inclusive a teologia da libertação – reivindicam procedência bíblica.

Contudo, o termo “teologia bíblica” também se refere a um modo de interpretar a Bíblia, isto é, um modo que ajuda a compreender as narrativas menores as quais, juntas, compõem uma narrativa bíblica total. Ele se preocupa tanto com a grande imagem quanto com os seus pixels, em especial como os autores bíblicos entendiam os detalhes desses pixels à luz da grande imagem como um todo.

Então o que a teologia bíblica tem a dizer em resposta às reivindicações e objetivos da teologia da libertação? Eu posso pensar em cinco tópicos que a teologia bíblica desejaria abordar:

Sobre a opressão sistêmica: os contextos da teologia da libertação

Primeiro, a teologia bíblica expressará uma compreensão empática dos contextos sociais e políticos nos quais a teologia da libertação emergiu nas Américas. Indivíduos como Cone e Gutierrez estavam buscando, desesperadamente, demonstrar a relevância da Bíblia em meio a horrendas realidades sociais e econômicas. Poucos evangélicos na época estavam interessados em abordar tais coisas e muitos impediram progresso naquelas áreas.

A natureza corrosiva do racismo de Jim Crow no sul dos Estados Unidos e as realidades devastadoras da pobreza crônica na América Latina levaram pensadores teológicos a forjar um sistema que fosse tanto profético como público. Infelizmente, à medida que certas questões foram trazidas para o centro, o essencial foi empurrado para as margens.

A teologia bíblica não apenas nos chama a reconhecer esses contextos, mas também nos ajuda a examiná-las de maneira correta. Todas as injustiças no mundo apontam de volta para a queda e para a rebelião fundamental do homem contra Deus. Por exemplo, racistas são racistas porque são rebeldes contra Deus. E, ao apontar para a verdadeira origem do racismo, a teologia bíblica pode então seguir o rastro do enredo bíblico até descobrirmos que a cura definitiva está na pessoa e obra de Jesus Cristo. Apenas os cristãos têm a única mensagem apta a reconciliar racistas e outros rebeldes com um santo e justo Deus.

A missão da igreja local, sem dúvida, é entregar e espalhar essa mensagem evangélica.

Sobre o pecado: o réu da teologia da libertação

A teologia da libertação descreve o pecado não em termos de uma rebelião individual contra um santo e justo Deus, mas em termos de injustiça estrutural e coletiva. E negligenciar completamente os pecados do indivíduo é um erro. Por outro lado, pode-se fechar os olhos para as evidências da queda estrutural ao mesmo tempo em que se reconhece a pecaminosidade dos indivíduos que habitam essas estruturas.

A teologia bíblica encoraja o equilíbrio. O enredo da Escritura situa a origem do pecado no coração humano individual, de tal modo que Paulo pode concluir: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Mas, tão logo indivíduos caídos começam a construir civilizações, sua condição caída se concretizará nas instituições que governam a sociedade, do juramento de Lameque à decisão coletiva de construir Babel, às balanças enganosas e aos decretos iníquos (Gênesis 4.24; 11.4; Deuteronômio 16.19-20; Provérbios 16.11; Isaías 10.1-2). Uma lei ou prática injusta, em outras palavras, é uma injustiça institucionalizada ou estrutural.

Além disso, o enredo do Israel pré-exílico nos apresenta não apenas uma narrativa de atos pecaminosos discretos, mas da corrupção infecciosa de uma nação inteira, em parte devida às injustiças de seus reis e sacerdotes, cujos pecados manifestavam-se não apenas individualmente, mas institucional e estruturalmente – em tudo, desde os seus tratados com potências estrangeiras à prática do suborno e à exploração do órfão e da viúva.

Assim, falar da obra de Cristo ao cumprir a lei e os profetas é falar não apenas de uma lavagem e purificação individuais, mas de uma lavagem e purificação institucional e estrutural. Ele não é apenas o indivíduo justo; ele é o verdadeiro templo. Ele não apenas guardou o sábado; ele é o Senhor do Sábado. Ele não é apenas um novo Adão; ele é um novo reino e nação e governo.

Os cristãos, que se submetem ao governo de Cristo, deveriam, portanto, estar entre os primeiros a reconhecer não apenas a prevalência do pecado individual, mas do pecado institucional e corporativo. Ao considerarem a governança de Cristo, eles estão treinados para discernir a natureza de um governo verdadeiramente justo. Embora grandes falhas marquem o registro histórico nesse particular, indivíduos cristãos deveriam lutar para liderar o caminho não apenas de oposição a atos individuais de injustiça, mas às injustiças institucionais. Nós devemos servir como sal e luz em um mundo tenebroso. Ainda assim, a teologia bíblica compreende que este mundo continuará a falhar em refletir a glória de Deus, exatamente porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus.

Ademais, na teologia da libertação, o pecado é descrito dentro do binário oprimido/opressor. Não há espaço para debruçar-se sobre normas universais de comportamento ético. Além disso, parece que aqueles que constituem a comunidade dos oprimidos são até mesmo incapazes de cometer pecado.

Aqui, a teologia bíblica novamente enfatizaria a universalidade do pecado (Romanos 3.23; 5.12). Toda a humanidade, tanto os opressores quanto os oprimidos, é culpada de pecado. Essa culpa e corrupção herdadas têm sua gênese no Jardim, no qual tanto a inocência como o paraíso são perdidos por causa da desobediência idólatra (Gênesis 3.7, 23).

Isso significa que, dentro do enredo bíblico, até mesmo aqueles considerados vítimas são também vilões que necessitam desesperadamente da graça salvadora.

A Bíblia não conta uma história de mocinhos contra bandidos. Em vez disso, ela conta a história de um único que é bom, o qual sofre em lugar de um povo que é mau e em favor desse povo adquire o bem (2 Coríntios 5.21). O conflito humano procede da quebra da comunhão com Deus, da qual toda a humanidade padece. Qualquer teologia que rejeite este fato pode apenas enganosamente ser chamada “da libertação”, uma vez que ela confina seus aderentes à perpétua escravidão e, talvez, à condenação eterna.

Sobre a vitimização como lente interpretativa: a hermenêutica da teologia da libertação

A teologia da libertação ensina que a Bíblia deve ser interpretada sob a perspectiva do pobre e do oprimido. Ela faz isso a fim de evitar mais injustiças e de trazer à luz os sofrimentos das vítimas sociais. De fato, ela afirma que a Bíblia existe para revelar Deus como o libertador das vítimas oprimidas. Essa libertação é, de muitas maneiras, vista como a essência da mensagem da salvação.

Mas deveríamos nós utilizar a comunidade dos oprimidos ou os pobres como a lente interpretativa por meio da qual lemos a Bíblia? Uma teologia bíblica correta defende que a Bíblia não é sobre o homem, mas sobre o Deus-homem, Jesus Cristo. A pessoa e obra de Cristo é o ápice da história da redenção. Ele é o objeto último e o consumador da fé que justifica. Lembre-se de que Jesus colocou a si mesmo no centro da narrativa do Antigo Testamento (Lucas 24.27). Assim, uma hermenêutica centrada em Cristo é o princípio para abrir o significado das Escrituras.

Essa convicção nos ajuda a nos concentrarmos no conteúdo do grande drama bíblico. É a história da história dele, movendo da criação à queda, à redenção, à consumação. A Bíblia conta a história de um Deus que planejou, da eternidade passada, assegurar a salvação de um povo pecador ao enviar e sacrificar o seu Filho.

Sobre a narrativa do êxodo: o tema dominante da teologia da libertação

Para a teologia da libertação, especialmente a teologia da libertação negra, o relato do Êxodo é o tema central em torno do qual a teologia se orienta. O ato de Deus libertar o seu povo da escravidão egípcia estabelece as expectativas e a agenda atual da teologia da libertação.

Aplicar a história de resgate do Êxodo ao mundo temporal das nações e da política não começou no meio do século XX. Escravos negros americanos nos séculos XVIII e XIX foram atraídos para a narrativa do Êxodo, uma vez que ela refletia sua condição. A narrativa servia como uma prova positiva de que Deus era capaz de e desejava resgatar um novo Israel (escravos negros) de um novo Egito (América). Olhando mais além, os puritanos do século XVII que atravessaram o Atlântico consideravam estar deixando um Egito (Inglaterra) em missão divina, embarcando no que um historiador chamou “uma peregrinação pelo deserto”. Não obstante, a teologia da libertação moderna foi a primeira a tomar essa narrativa e aplicá-la como normativa às comunidades oprimidas.

A teologia bíblica expõe diversos problemas com essa pressuposição prescritiva. Primeiro, ela ignora o fato de que as pragas culminam na morte dos primogênitos e na Páscoa, um ato de julgamento que caía tanto sobre os descendentes de Abraão quanto sobre o resto do Egito. Os descendentes de Abraão, contudo, tinham um modo de escapar por meio de um sacrifício substitutivo. Os Evangelhos, depois, caracterizam Cristo como o nosso Cordeiro Pascal (por exemplo, João 1.29). Não seria correto dizer, portanto, que o caminho do nosso êxodo é por meio do sacrifício expiatório desse Cordeiro Pascal, em vez de, por exemplo, por meio da modificação de leis injustas?

Segundo, a teologia da libertação falha em reconhecer – ou, pelo menos, parece menosprezar – a realidade pactual em que o Êxodo se expressa. O Êxodo não foi um evento meramente político e socioeconômico. Em vez disso, Deus estava mantendo uma promessa pactual ao reunir para si mesmo um povo pactual: “Tomar-vos-ei por meu povo [israelitas] e serei vosso Deus” (Êxodo 6.7). A Antiga Aliança, então, foi cumprida na Nova. E em nenhum lugar Jesus faz uma nova aliança no seu sangue com os puritanos. Ou com os escravos negros. Ou com os excluídos da América do Sul. Em vez disso, ele oferece uma nova aliança por todos aqueles que se arrependem e crêem em sua obra pactual realizada.

Terceiro, a teologia da libertação falha em considerar o objetivo do evento do Êxodo. Deus diz a Faraó: “Deixa ir o meu povo, para que me sirva no deserto” (Êxodo 7.16, ênfase acrescida). O objetivo não era, em última instância, a libertação política ou econômica, mas ajuntar um povo governado por Deus, obediente e adorador. E, contudo, nós sabemos que os israelitas acabaram por fracassar em submeter-se ao governo de Deus, fracassaram em adorar e fracassaram em obedecer. Embora eles tenham sido resgatados da escravidão física, permanecem em escravidão espiritual. A teologia da libertação, portanto, põe a sua esperança num Êxodo que, literalmente, não liberta e jamais libertou.

Felizmente, o tema do Êxodo não está confinado ao Pentateuco; ele está presente em toda a Bíblia. A desobediência pecaminosa de Israel culmina com os cativeiros assírio e babilônico nos séculos VIII e VI a.C., respectivamente. Antes desses cativeiros, os profetas Isaías e Jeremias falaram de um novo Êxodo, um que iria ofuscar o primeiro. Segundo esses profetas, este Êxodo, quando plenamente realizado, não apenas incluiria o retorno dos exilados, mas, e mais importante, a libertação espiritual.

Assim, o grande descuido da teologia da libertação no que se refere à narrativa do Êxodo é que ela falha em tratar o evento do Êxodo como uma sombra da libertação que Cristo traz. À medida que a Bíblia se descortina e a Nova Aliança é estabelecida, Cristo é retratado como um superior Cordeiro pascal (1 Coríntios 5.7), como um superior Moisés (Hebreus 3.1-6) e como o verdadeiro Israel (Oséias 11.1; Mateus 2.15). Colocando de modo simples, o Êxodo é, em sua plena expressão, a salvação eterna do pecado e da condenação, salvação que só se pode encontrar em Cristo. Um novo povo de Deus está sendo moldado segundo a sua justiça, não segundo uma identidade étnica ou uma condição social.

Sobre o fim dos tempos: o erro escatológico da teologia da libertação

É difícil discernir o que a teologia da libertação ensina sobre o fim dos tempos. O modo como Deus levará este mundo ao seu fim apropriado não constitui uma preocupação imediata dos teólogos da libertação. Além disso, a realidade de uma vida por vir é raramente discutida. O que importa é o aqui e o agora e como a opressão, a pobreza e a injustiça podem ser erradicadas hoje. Ela sustenta que uma teologia preocupada com um mundo superior e por vir paralisa as comunidades oprimidas e justifica o status quo. Portanto, a teologia da libertação busca desiludir as pessoas de suas expectativas futuras e encorajá-las a buscar essas esperanças futuras agora.

Embora perigosamente desorientada, há algo de valor a se reconhecer aqui. A teologia da libertação oferece uma crítica justa a alguns na comunidade evangélica, ao expor o que pode apenas ser considerada uma indiferença para com a injustiça social, ainda que escondida sob uma doutrina ortodoxa.

Não obstante, o corretivo que a teologia bíblica oferece é de imensa importância: ela afirma a ressurreição final e a nova criação por vir. O testemunho bíblico está cheio de um constante refrão da esperança eterna. As alianças bíblicas culminam na nova aliança em Cristo, marcada pelo selo da habitação do Espírito – o literal penhor da prometida herança a se receber (Efésios 1.14). E, contrário ao que a teologia da libertação sugere, a esperança dessa herança encoraja tanto a paciência que reflete a Cristo (2 Coríntios 4.17-18; 1 Pedro 2.21-23) como os esforços que exaltam a Cristo (1 Coríntios 15.58).

A teologia bíblica expõe o fato de que a teologia da libertação não apenas tem uma escatologia excessivamente realizada, mas se engana completamente acerca do fim dos tempos. O objetivo último do drama bíblico da redenção não é fazer com que o homem habite com o homem em harmonia e igualdade. O objetivo do drama se realizará e se expressará na exclamação desta grande voz: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles.” (Apocalipse 21.3). Infelizmente, a libertação que importa não pode ser encontrada na teologia da libertação.


Notas:
[1] As citações no início deste artigo – assim como os ensinamentos em geral do sistema teológico criticado – foram respectivamente extraídas de James H. Cone, A Black Theology of Liberation, Fortieth Anniversary Edition (New York: Orbis Books, 2010) [N.T.: Sem tradução em português] e Gustavo Gutierrez, A Theology of Liberation, 15th Anniversary Edition (New York: Orbis Books, 1988) [N.T.: Publicado em português sob o título Teologia da libertação: perspectivas (São Paulo: Edições Loyola, 2000)].

Por: Steven Harris. © 2014 9Marks. Original: Biblical Theology and Liberation.
Este artigo faz parte do 9Marks Journal.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel. © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Teologia Bíblica e Teologia da Libertação.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A farsa da fraude

O PT em 1988 boicotou a homologação da Carta que sacramentou a passagem do autoritarismo para a democracia no Brasil. Manifestava-se então a retórica antissistema, característica das mais criticáveis na agremiação que pretendia, e conseguiu, agigantar-se pelo voto.

Esse oposicionismo imberbe, que denunciava as mesmas regras do jogo utilizadas pelo partido para crescer e se consolidar, era claramente uma farsa. Ou uma bravata, como depois admitiria o já presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas os interessados no enraizamento da democracia deveriam se preocupar também com frases e atos hostis ao statu quo institucional patrocinados por lideranças partidárias. Existem hoje no mundo alguns exemplos de movimentos que começaram assim, mas deslizaram para aventuras autoritárias após instalados no poder.

Preocupa, a propósito, a constante pressão para deslegitimar o sistema judicial comandada por Lula e o PT. Criticar uma condenação é algo normal. Nenhum réu é obrigado a concordar com os argumentos do juiz que o sentenciou. Precisa apenas cumprir sua decisão.

Diferente é apregoar que “eleição sem Lula é fraude” e, embalado nesse slogan, marchar rumo ao Tribunal Superior Eleitoral, como fizeram agrupamentos de esquerda atrelados ao PT nesta quarta (15).

Trata-se, sem dúvida, de nova falácia fabricada pelo partido. Este terá candidato uma vez consumada a inabilitação do líder pelo TSE: será o ex-prefeito Fernando Haddad. A sigla vai participar do que chama de fraude.

O problema dos rompantes antissistema não é o que ocorre quando os seus porta-vozes perdem as eleições. O preocupante é o que acontece quando ganham e se defrontam com impasses na administração. A tentação de concretizar o que eram só bravatas se apresenta.

Não é difícil cogitar a hipótese de um representante do PT eleger-se presidente da República e colocar-se diante da oportunidade de conceder perdão aos companheiros do partido condenados na Lava Jato, incluindo Lula. Ou de solapar a autonomia das instituições de controle do exercício do poder.

O flerte com excentricidades que desprestigiam a competição política e o sistema de pesos e contrapesos no Brasil não é monopólio do PT. Derrotado na eleição de 2014, o PSDB entrou com recurso questionando a lisura da votação.

O impeachment, na visão desta Folha, era punição exagerada para os desmandos orçamentários praticados sob Dilma Rousseff. Melhor teria sido a renúncia da presidente e de seu vice, e a consequente convocação de novas eleições diretas.

A pantomima petista com Lula seria apenas mais uma recaída do partido no infantilismo, não despertasse temores sobre como pode terminar essa brincadeira.

Editorial da Folha de São Paulo, do dia 16 de agosto de 2018

sábado, 28 de julho de 2018

Ensina-nos a orar

"A oração não se mostra verdadeira quando Deus escuta o que se lhe pede. Ela é verdadeira, quando quem ora continua orando, até que seja ele mesmo a escutar o que Deus quer. Quem ora de verdade, nada mais faz senão escutar.” [1]

Teocêntricos ou antropocêntricos?

Se você quiser saber o conceito que um povo tem de Deus, preste atenção nas suas orações e nos seus cânticos. Pois é impossível ter um conceito correto de Deus revelado nas Escrituras e orar, cantar e adorar de maneira errada. Como sabemos, a teologia precede a ética, ou seja, o nosso comportamento, os nossos valores e prioridades são reflexos ou expressões do conceito que temos de Deus e da vida. Portanto, quanto mais conhecermos pelas Escrituras o Deus que se revelou na Pessoa de Jesus Cristo, quanto mais conhecermos o seu ser, os seus atributos, isto determinará a nossa maneira de orar, cantar e adorar a Deus.

Pode-se questionar: Seria possível adorar de maneira errada? Jesus disse que sim. Quando do seu encontro com a mulher samaritana, ele afirmou: “Vós adorais o que não conheceis.” Jo 4:22. Creio que um dos atributos de Deus que permeia todos os demais e que determina nosso relacionamento com Ele, através da oração e cânticos, é a soberania de Deus. Entretanto, a tendência hoje no meio cristão, é engrandecer o homem e degradar a Deus, chegando mesmo quase a divinizar o homem e humanizar a Deus. Pregamos um Deus limitado pela autonomia humana e, no dizer de R. K. Mc Gregor Wright, “Um Deus limitado pela autonomia humana, não é capaz de satisfazer as necessidades de um mundo perdido.”[2] Esta luta teve origem no Éden, quando Satanás fez o homem duvidar da palavra e do caráter de Deus. O homem perdeu o conceito correto da soberania de Deus, perdeu a visão de Deus como criador, e dele como criatura, levando-o a acreditar que poderia ser como Deus, que ele também é um ser autônomo. Essa luta entre o teocentrismo e o antropocentrismo, tem permeado toda a história humana. A. W. Pink diz: “Em toda a cristandade, com exceção que quase não pode ser levada em conta, mantém-se a teoria de que o homem determina a própria sorte e decide seu destino, através do seu “livre arbítrio”.”[3] Basta que prestemos atenção na maioria dos livros evangélicos escritos sobre oração, na maioria dos sermões pregados nas igrejas, nas letras dos cânticos, que iremos comprovar a triste realidade da centralidade humana

Uma reciclagem necessária

A soberania de Deus sempre foi o tema central de toda a bíblia. Seu primeiro versículo proclama esta verdade: “No princípio criou Deus”. Veja ainda Is. 45:5-7; Dn 2:20,22; 4:34,35; I Cr 29:10-17; Rm 9: 14-26; Ap 4:11. A soberania de Deus sempre foi o tema de Paulo, Agostinho, dos pré-reformadores, dos reformadores, Lutero, Calvino, Zuinglio, sempre foi tema dos puritanos, e o tema central da teologia reformada. Portanto, somente uma reciclagem nesta verdade suprema poderá mudar nossas mentes, nossos conceitos, e consequentemente, nossas orações e cânticos. É de suma importância que aprendamos a orar e cantar com a Bíblia.

Orações na bíblia- Busca de uma vontade soberana

Vale a pena lermos e meditarmos a respeito do conteúdo das orações que a Bíblia registra. Veja Salomão orando- I Rs 3:5-10; 8:22-61. Examine a oração de Ezequiel no templo, II Rs 19:15-19; Is 37:14-20. Observe a visão da soberania de Deus e dos decretos eternos que tinha Davi, através da sua oração em II Sm 7:18-24; I Cr 17:16-27. Descubra o processo do trabalhar de Deus na vida de Jó, para que ele se dobrasse diante da soberania de Deus e aprendesse a orar. Veja sua oração no cap. 42: 1-6. Também podemos aprender a orar com o profeta Jeremias, reconhecendo a Deus como criador dos céus e da terra e como sustentador de tudo, Jr 32:16-25. Observe a oração de Daniel no exílio, Daniel capítulo 9, como também a oração de Esdras no capítulo 9, são orações que exaltam a soberania de Deus, seu plano eterno, orações que justificam a fidelidade, a misericórdia de Deus, que reconhecem a culpa humana. Todos eles oravam baseados na palavra, nas promessas de Deus, buscavam a vontade de Deus.

No Novo Testamento vamos encontrar também magníficas orações, a começar por aquela que Jesus ensinou atendendo ao oportuno pedido de seus discípulos, conhecida como a “Oração do Pai Nosso”, Mt. 6:9-13. Nela vemos delineados os princípios da oração e podemos dizer que todas as orações verdadeiras sem dúvida terão os princípios revelados nela, pois é uma oração teocêntrica, onde o tema principal é o Reino de Deus estabelecido na terra, através do seu nome santificado e a sua vontade feita na terra como é feita nos céus. Temos também em Mt. 26:36-44 a oração de Jesus no Getsêmani, onde Ele deixa vazar seu coração como homem e se coloca diante do Pai apresentando a sua vontade, mas se submete à vontade soberana de Deus. Temos ainda no capítulo 16 do evangelho de João, a conhecida oração sacerdotal, onde Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, revela toda a sua missão de salvar os eleitos para Deus, deixando claro que Ele veio para um povo específico, e que Ele não somente tornou possível a salvação deste povo, mas que cumpriu o propósito eterno de Deus salvando realmente o seu povo. O verso 4 diz: “Eu te glorifiquei na terra consumando a obra que me confiaste para fazer.”

Jesus ensinou os seus discípulos a respeito do plano eterno e soberano de Deus, e eles passaram estas verdades aos primeiros cristãos. É o que podemos ver em Atos 4:23-31, quando a igreja primitiva está em oração. Eles começaram proclamando a soberania de Deus como criador e senhor de tudo. No verso 28 eles declaram que tudo o que aconteceu com Jesus fazia parte do propósito predeterminado por Deus. Podemos também ver a importância da visão correta da soberania de Deus, nas orações de Paulo, tanto pela igreja de Éfeso, Ef. 1:15-23; 3:14-21; como pelas demais igrejas, Cl 1:9-12; Fp 1:9; I Ts 3:11... Paulo sempre orava para que o Espírito Santo abrisse os olhos espirituais dos irmãos, dando-lhes sabedoria para compreenderem a vontade de Deus. Os textos demonstram claramente que a visão que Paulo possuía da soberania de Deus e do mistério que lhe fora revelado, determinavam suas orações.

Como oravam os pais da igreja?

A história da igreja é testemunha de irmãos que através dos séculos, deixaram registradas suas orações manifestando de forma maravilhosa, esta visão correta a respeito de Deus e seu propósito. Um livreto que muito tem me ajudado e que eu aconselharia ao leitor adquirir, é uma coletânea de orações dos 20 séculos de história da igreja, intitulada: “Orações do povo de Cristo”, Editora Sinodal e Encontrão Editora. Neste livreto foram selecionadas as principais orações de cada século, orações feitas por irmãos que marcaram sua geração, creio que iremos aprender a orar com eles. Em todas estas orações podemos ver algo em comum: A visão correta da soberania de Deus e do seu eterno propósito. Eles sempre oravam para conhecer mais a Deus e pediam graça para realizar a sua vontade. Também creio ser indispensável meditar em outra obra sobre oração, intitulada: “Orando com os salmos”, do escritor alemão Dietrich Bonhoeffer, Encontrão Editora. Neste livro o autor nos ajuda a entender que a Bíblia é a palavra de Deus a nós, mas que os salmos são orações humanas inspiradas por Deus e dirigidas a Ele.

Dificuldades no aprendizado

Hoje temos muita dificuldade para aprender a orar. Achamos que por sabermos falar, sabemos orar; e muitas vezes, nossas orações se assemelham mais as orações dos “gentios que não conhecem a Deus, e pensam que pelo muito falar serão ouvidos.” Mt 6:7,8. A falta de revelação de quem é Deus, e quem somos nós, nos conduz a grandes erros na oração. Ouça o conselho de Salomão em Ec 5:2: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.” Pior do que não orar é orar errado, é mais fácil ensinar quem não sabe orar do que quem já aprendeu errado. Bonhoeffer, nos ajuda entender isso, quando afirma: “Dizer que o coração é capaz de orar por natureza, é no entanto um equívoco perigoso, se bem que amplamente difundido na cristandade de hoje. Neste caso nós confundimos desejar, esperar suspirar, lamentar ou jubilar (de tudo isto nosso coração é capaz) com orar. Confundimos a terra com o céu, o ser humano com Deus. Orar não significa simplesmente derramar o coração, mas significa encontrar-se com o coração saturado ou vazio, o caminho para junto de Deus, e falar com Ele. Disto porém homem algum é capaz, para poder fazê-lo necessitamos de Jesus Cristo.” [4]

O que é orar em nome de Jesus?

Para muitos, o nome de Jesus é uma senha que abre os cofres do céu, ou uma chave que abre o coração de Deus. O nome de Jesus se torna como que uma “fórmula mágica”. Na realidade, a falta de um entendimento correto do que significa orar em nome de Jesus, tem sido fator determinante de tanta confusão com respeito a oração. Orar em nome de Jesus é orar a vontade dele, e orar a oração dele é orar junto com Ele. Vejamos ainda o que Bonhoeffer afirma a este respeito: “A verdadeira oração é, portanto, a palavra do Filho de Deus, que vive conosco, dirigida a Deus o Pai na eternidade.” [5] Os verdadeiros mestres da oração nos ensinam esta verdade, só podemos orar juntamente com Jesus. Nossas orações devem ser consequência da palavra de Deus que deve habitar ricamente em nosso coração desordenado. Devemos sempre nos perguntar: Jesus faria a oração que estou fazendo? Será que estou orando em seu nome, ou em meu próprio nome? As minhas orações são antropocêntricas ou Teocêntricas? Estou desejoso de que o nome de Deus seja santificado na terra? Que o seu reino cada vez mais seja uma realidade cada vez maior em minha vida, em minha casa e na sua igreja? Estou desejoso de que a sua vontade seja manifestada através da vida do seu povo aqui e agora? Quando examinamos nos evangelhos a vida de Jesus, percebemos que este sempre foi o seu desejo, a santificação do nome do seu pai, a manifestação do Reino de Deus na terra, e chegou mesmo a afirmar que a sua comida e a sua bebida era fazer a vontade de Deus. Que Deus nos dê graça para amarmos a sua vontade e que as nossas orações cada vez mais sejam determinadas pelo conceito que temos do plano eterno de Deus.

Orando segundo a vontade de Deus

A eficácia da nossa oração, não está na quantidade de oração que fazemos, mas sim o quanto as nossas orações estão de acordo com a vontade de Deus. Muitas vezes, pensamos: Se Deus é soberano e a sua vontade será feita, será que a oração tem algum valor? Pois como sabemos, Deus jamais fará qualquer coisa contra a sua própria vontade. Poderíamos perguntar: Se é da sua vontade realizar algo, porque necessitamos orar? Se não orarmos, Ele não irá realizar a sua vontade? Se isto é verdade, será que a vontade de Deus está limitada por nossas orações?

A Bíblia nos ajuda a compreender o mistério da oração, pois ela deixa bem claro que o Deus que determina os fins também determina os meios pelos quais a sua soberana vontade será realizada. Portanto, a verdadeira oração não é um meio para fazer Deus concordar conosco, mas um meio para desejarmos e orarmos a vontade de Deus. Deus poderia cumprir sua vontade sozinho, mas preferiu nos incluir no seu plano. Assim como a pregação da palavra de Deus é um meio para que os eleitos sejam salvos, assim também a oração é um meio para que a vontade de Deus seja feita. O próprio Jesus nos ensinou a orar: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”. A verdadeira oração aqui na terra, nada mais é do que o expressar a vontade de Deus no céu. A oração não altera o que Deus já determinou, mas é o meio de realizar o que já foi preordenado. Não é a terra que comanda os céus, como muitos pensam, mas os céus comandam a terra. Quando nossas orações são determinadas pela palavra de Deus, ele nos ouve. Veja o que diz João 15:7: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito.” O Espírito Santo trabalha a palavra de Deus na nossa mente, mudando os nossos conceitos, e consequentemente, os nossos desejos, e então começamos a orar a vontade de Deus. I João 5:14 confirma esta verdade: “E esta é a confiança que temos para com Ele, que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.” O ministério do Espírito Santo é realizar a vontade de Deus, jamais Ele irá contra o plano eterno e predeterminado por Deus. Romanos 8:26,27 nos esclarece que o desejo do Espírito é a vontade de Deus. “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercedo por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que Ele intercede pelos santos.” Somente tendo a nossa mente renovada pela palavra de Deus é que seremos transformados, teremos os nossos desejos mudados, pois não pensamos o que pensamos porque desejamos o que desejamos, mas desejamos o que desejamos porque pensamos como pensamos. Somente a palavra de Deus pode mudar os nossos pensamentos para podermos crer que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável.

O segredo da oração: Saber ouvir

Por mais estranho que nos pareça, o grande segredo para orar corretamente é saber ouvir, e não, saber falar. Assim como uma criança aprende a falar por ouvir o seu pai falar, nós aprendemos a orar, quando aprendemos a ouvir o falar de Deus. Deus nos fala através de sua palavra. A bíblia é o falar de Deus a nós na pessoa de seu Filho, portanto ela deve ser a base principal de nossa oração. É muito importante aprendermos a orar e cantar a palavra de Deus. O salmo primeiro nos diz que o varão bem aventurado é aquele que tem prazer de meditar na palavra de Deus de dia e de noite. Para ouvir precisamos ficar em silêncio e querermos ouvir “quem tem ouvidos para ouvir ouça”. Se o pior cego é aquele que não quer ver, o pior surdo é aquele que não quer ouvir. O silêncio muitas vezes nos assusta, pois o que mais nos perturba não é o barulho de fora, mas o de dentro, e muitas vezes até buscamos barulho exterior para não ouvirmos o interior. Mas na realidade, há uma grande ligação entre o silêncio e a oração.

Oração é relacionamento

Deus é um ser relacional, e nos criou à sua imagem e semelhança, portanto o relacionamento é um fator primordial em nossa vida. O nosso relacionamento com Deus determina nossa saúde emocional, reorganiza nosso mundo interior e determina os nossos relacionamentos pessoais. Os dez mandamentos não são nada mais do que princípios de relacionamentos. Os quatros primeiros são princípios para nos relacionarmos com Deus, e os seis últimos, princípios para nossos relacionamentos com o próximo. Orar nada mais é do que relacionamento com Deus, é um encontro pessoal e íntimo, que nos transforma cada vez mais à mesma imagem dele. II Co 3:17,18.

Nossa oração não pode ter o objetivo de fazer Deus funcionar para nosso uso, como se ele fosse um computador ou um eletro-doméstico. A verdadeira oração tem como objetivo relacionamento e intimidade, como disse Clemente de Alexandria: “Orar é manter a companhia com Deus.” [6] Na verdade nós não nos realizamos com oração, mas em Deus. A oração é um meio, e não um fim em si mesma. A verdadeira oração cristã deve ser trinitária, isto é, orarmos ao Pai, através ou em nome do Filho, mediante o Espírito Santo.

Nunca devemos pensar na oração como um meio de conquistar nossos desejos desordenados. Tiago 4:3 nos diz: “Pedis e não recebeis porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.” A falta de visão da oração como relacionamento nos conduz ao erro de procurar métodos e técnicas para extrairmos o máximo de Deus. Muitos cursos e ensinamentos de oração parecem nos ensinar como tirar o melhor proveito de Deus. Hoje, somos uma geração de consumo, temos uma mente secularizada, por isso a oração se transformou em um meio de resolver problemas e obter conquistas. Pensamos na oração como um meio de mudar a vontade de Deus. Soren Kierkegaard diz: “A oração não transforma Deus, mas transforma aquele que ora. Não oramos a fim de informar a Deus, como se ele ignorasse os eventos e aquilo que estamos pensando ou sentindo. Antes oramos dizendo: “seja feita a tua vontade”.”

O maior desejo de Deus não é nos dar coisas, mas o maior bem para nós na mente de Deus é nos conformar à imagem de seu Filho (Rm 8:28,29). Somente através desta transformação é que encontraremos nossa verdadeira humanidade, pois a intimidade com Deus nos libertará de nossas trevas interiores e deixaremos de ser superficiais. A superficialidade é a maldição da nossa geração, somos obcecados pelo exterior, somos colecionadores de coisas, e acabamos por nos “coisificar”. Temos medo da oração, porque temos medo de nos conhecer, pois na luz de Deus temos luz, e diante da luz tudo se manifesta. Orar é estar nu diante de Deus, é estar vazio, totalmente dependente da graça. Orar é reconhecer nossos limites, nossa finitude, e reconhecer que somos barro nas mãos do oleiro. Orar é uma demonstração de fé. James Houston diz: “Viver sem orar é finalmente desacreditar de Deus, é perder de vista os mais importantes valores humanos, tal como a fé, a esperança e o amor.” [7]

Na oração enfrentamos uma verdadeira batalha espiritual: usar Deus para fazer a nossa vontade, ou render-nos à vontade do Pai. Na oração buscamos graça para crermos que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. Quando deixamos o terreno da graça, corremos o risco de, baseados em nossa própria justiça, orarmos como o fariseu de Lucas 18:11: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais...”, e mal sabia ele que orava de si para si, e não foi justificado. Deus usa sua palavra e nossos momentos de oração para esquadrinhar nosso coração e nos revelar nossos motivos distorcidos, nossas trevas interiores. Deus não se relaciona conosco com intenções utilitárias ou para nos fazer funcionar, mas também não permite que nos relacionemos com Ele assim.

O Espírito e a oração

A Bíblia afirma que nós não sabemos orar como convém, mas que o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8:26,27). A verdadeira oração não está baseada em nosso intelecto, mas em um coração quebrantado e contrito. Quando oramos somente com nosso intelecto, somos tentados a dar direção a Deus, a aconselhá-lo como agir. Mas Deus pelas suas muitas misericórdias usa vários meios para nos quebrantar, para tratar com nosso coração altivo. Muitas vezes, nos coloca em túneis escuros para que aprendamos a orar de verdade, para nos ensinar a depender do Espírito Santo. Geralmente nestas horas de profundas crises, nossa boca se cala, mas nosso coração se abre; nossos ouvidos se aguçam e nós paramos de ensinar a Deus, e nos colocamos como aprendizes, como aconteceu com Jó: “Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia..., Eu te perguntarei, e tu me ensinarás.” (Jó 42:3). O propósito final de Deus foi levar Jó a uma intimidade de relacionamento, não apenas ter informações sobre Deus, não apenas ouvir falar de Deus, mas ver a Deus; e quando isso acontece, quando através da intimidade nós começamos a ter uma revelação real de Deus, nossa reação é semelhante a de Jó, diante de tanta sabedoria e poder, só nos resta nos abominarmos e nos arrependermos no pó e na cinza; e por incrível que pareça, é um momento de terror, mas de profunda alegria também, muitas vezes de medo, mas de plenitude, pois aprendemos que orar é intimidade, é andar com Deus, é um relacionamento amoroso, que nos gera uma real alegria, e como diz o Senhor: “Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor” (Jr 9:24).

Nesta escola da oração nós nunca nos diplomamos, mas pelo contrário, cada vez mais clamamos: “Ensina-nos a orar”.

Por Paulo Cesar Bornelli, Presbítero da Comunidade Cristã de Maringá - Pr
Fonte: Revista "Pensador Cristão", Dezembro/2002.

Bibliografia

1 - Orar com o coração – Edições Paulinas – p. 24

2 - A Soberania Banida – R. K. Mc Gregor Wright – Edit. Cultura Cristã – p. 9

3 - Deus é soberano – A.W. Pink – Editora Fiel – p. 9

4 - Orando com os salmos – Dietrich Bonhoeffer – Editora Encontrão – p. 10

5 - Ibid, 13

6 - Orar com Deus – James Houston – Abba Press Editora – p. 7

7 - Ibid, 15

domingo, 8 de julho de 2018

Uma grande lição

A maior lição que aprendi com a queda do Brasil na Copa da Rússia?
Em questão de segundos, tudo mudou. A animação inicial deu lugar a um calafrio. Os favoritos levavam o primeiro baque: o primeiro gol que os tiraria da copa.

Referência mundial no futebol, os brasileiros sempre encantaram o mundo. Mas parece que algo mudou.

Fábrica de craques, nosso país criou gênios da bola. Por definição, um gênio é aquele que faz milagres. Que faz o que é impossível para os outros. Faz coisas que não se entende, que não se explica.

Nos anos 70, 80 e 90 foi assim. Nossos jogadores eram tão imprevisíveis, com tanto talento, que eram disputados a peso de ouro. Pareciam mágicos irreplicáveis. Quem tem, tem. Que não tem, chora.

Mas só que não é mais assim.

Os europeus tinham menos talento. Menos gingado. Menos criatividade. Eram quadrados, previsíveis. Mas nunca foram bobos.

Os maiores clubes do mundo começaram a contratar especialistas para analisar os movimentos e jogadas de seus craques brasileiros. Como corriam, como passavam e como improvisavam.

Aos poucos, a genialidade começou a fazer mais e mais sentido. Pedaladas, voleios e trivelas começaram a ser desenhadas, desvendadas. Não era como tanto estilo, mas agora outros poderiam ser treinados, instruídos no que antes parecia ser poder divino.

O talento virou processo.

E processos podem ser melhorados, estudados e replicados. Podem ser compartilhados e em pouco tempo dezenas ou milharas podem chegar no mesmo resultado.

Precisamos acabar com a cultura da adoração do talento. Do empoderamento daqueles que parecem ter “nascidos prontos”. Precisamos começar a focar no trabalho duro, mas inteligente. Na disciplina libertadora de fazer algo tantas vezes até que seja entendido, melhorado.

Uma cultura que coloca as esperanças em um só indivíduo nos torna fracos. Se ele ganha, ganhamos. Se perde, sofremos.

E isso, na minha opinião, é talvez a mais poderosa lição que tiro da Copa.

Chega de esperar o camisa 10 resolver sozinho. Chega de achar que o presidente vai mudar tudo. O diretor. O síndico. O policial. Não é uma pessoa com super poderes que vai nos salvar. Somos nós mesmos.

Talento é bom, mas não é a solução. É o início.

O fraco aplicado, se bem treinado, é mais confiável do que o gênio que é volátil. Que faz quando quer e que nunca se sabe se vai querer. De lua.

Na vida, perdemos tempo demais esperando o camisa 10 resolver o jogo. Quando o jogo precisa ser resolvido por cada um de nós, na sua posição. Melhorando a cada dia, não por ter super poderes, mas por pagar um preço que poucos estão dispostos a pagar.

Trabalho duro, mas com inteligência. Não individual, milagroso e sobre-humano. Mas consciente, coletivo, replicável.

Na vida, precisamos esperar menos dos craques. E produzir mais jogadores simples, mas que não desistem da bola.

Na escola. Na empresa. Na família. Na igreja. Até mesmo nos esportes. Não é esperar por mais gênios, é treinar mais pessoas comuns que podem ser bem acima da média.

Precisamos inspirar nossos jovens e ser a sua melhor versão de si mesmos. Não a serem uma cópia de um craque que jamais será alcançado. E que é apedrejado quando falha.

Eu não sou contra o craque. Sou contra uma estratégia de vida só conta com craques e que desestimula quem não “nasceu com talento”.

Menos talento e mais trabalho. Menos terceirizar a esperança e mais “deixa que eu resolvo”.

Quero que meu filho queira usar camisa da seleção com o nome dele, não com o do craque do momento.

Talento ajuda. Mas campeão de verdade não nasce pronto. É lapidado.

Quem entende isso, hoje em dia, ganha o jogo.

Por Pedro Superti (da sua página no Facebook)

terça-feira, 19 de junho de 2018

A música nos cultos cristãos

"Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. " (Mateus 15:8) 

A música é um meio de adoração indispensável nos cultos cristãos. A própria Bíblia fala da importância da música como forma de adoração a Deus, por exemplo, no livro de Salmo capítulo 150, como está escrito:

“Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos. Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes. Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor”.


Todavia, com o passar dos anos a música cristã ou música gospel, como é mais conhecida, sofreu várias influências, e nem sempre as canções tocadas nos cultos refletem o desejo de adoração a Deus, mas sim a vontade do ser humano de servir a si próprio.

“Eu comecei a reconhecer que havia uma grande batalha dentro da minha adoração. Depois de cerca de dois anos, o louvor se tornou um momento de intensos ataques de bruxaria contra mim. Isso tornou ainda mais difícil a minha tentativa de focar em Jesus, porque os ataques espirituais me deixavam debilitada”. (Beth Eckert, ex-macumbeira convertida ao evangelho)

Uma adoração voltada para os interesses humanos

No início Beth Eckert não compreendeu o que estava acontecendo, até que percebeu que estava sendo induzida à adorar outra pessoa, que não era Jesus Cristo, mas os músicos, cantores e todo o ambiente emocionalmente envolvente que estava lhe fazendo mudar o foco da adoração:

“Eu não reconhecia nenhum problema durante o louvor. Mas depois de alguns meses, eu percebi que novamente a minha adoração não estava mais focada em Jesus”, disse ela, concluindo em seguida que “a música de adoração moderna tornou-se um disfarce de Satanás para atrair o povo de Deus e alinhá-lo com a adoração profana”.

O que Beth Eckert afirma é que a idolatria também pode estar presente em algumas canções e ambientes, mesmo se tratando de uma igreja cristã. “Muitas vezes, o foco do louvor está na música em si, na banda, nas luzes, na fumaça, em toda a produção, nas roupas dos líderes, mas não tem nada a ver com Jesus”, explica.

Por fim, Eckert explica que as músicas até podem fazer menção ao nome de Jesus Cristo ou Deus, mas a forma como isso é posto, se biblicamente correto ou não, é onde está a grande diferença. Ela adverte para o que seria uma forma de idolatria velada, onde o cristão, sem perceber, adora a si mesmo ou outros interesses, mas não o Senhor Jesus:

“Muitas vezes não nos damos conta de que há vários outros deuses sendo adorados. Se olharmos para o Antigo Testamento, veremos que estamos lutando exatamente contra os mesmos deuses, como Baal, Malok”, diz ela.

“Estes são apenas alguns dos nomes dos deuses que ainda estão ‘vivos’ na mente das pessoas, sendo adorados ativamente e estão sendo enviados às casas de adoração, muitas vezes infiltrados dentro das próprias igrejas”, conclui.

Com informações: Guiame.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Chamado efetivo e conversão: Posso resistir ao Espirito Santo?

A doutrina reformada da graça irresistível, também chamada de graça eficaz, afirma que Deus regenera e converte os eleitos por meio daquilo que é conhecido como o chamado efetivo. Esse é o chamado interior do Espírito Santo que persuade e convida o pecador a receber a Cristo, ao mesmo tempo em que o pecador é regenerado e renovado interiormente de modo a amar ao Senhor e crer prontamente no evangelho. Esse chamado deve ser distinguido do chamado exterior do evangelho, o convite feito a todas as pessoas indiscriminadamente pela pregação do evangelho, do testemunho, da ministração dos sacramentos e de outras proclamações da Palavra de Deus. Não obstante, o chamado interior muitas vezes acompanha e opera por meio do chamado exterior. Enquanto outras tradições ensinam que esse convite interior do Espírito Santo pode ser aceito ou rejeitado, a teologia reformada insiste que o chamado interior de Deus é efetivo, ou seja, nunca deixa de salvar aqueles que são chamados desse modo.

A Bíblia fala do chamado efetivo de Deus em várias passagens, mas talvez a que o distingue mais claramente do chamado exterior é Romanos 8.29-30. Nesses versículos, Paulo indica que o grupo daqueles que são chamados corresponde ao grupo daqueles que são predestinados, justificados e, por fim, glorificados. Fica evidente que esse chamado é dirigido somente aos que são salvos - bem como a todos os que são salvos (Romanos 1.7; Judas 1; Apocalipse 17.14).

O chamado efetivo é necessário em função do estado decaído da humanidade. Entorpecidos e envoltos em pecado, somos totalmente incapazes de responder de maneira afirmativa ao chamado exterior do evangelho; não dispomos dos meios para poder compreender corretamente Deus e sua mensagem de salvação (1 Coríntios 2.12-14) e odiamos a Deus e seus mandamentos (Romanos 8.5-8). Nenhuma pessoa decaída tem a capacidade moral de receber Cristo; somente aqueles a quem Deus concedeu essa capacidade podem crer no evangelho e ser convertidos (Deuteronômio 30.6; Mateus 11.25-27; 13.10-16; João 6.44,63-65; Atos 16.14).

Diante da nossa incapacidade, Deus escolheu transformar o coração dos eleitos mediante o seu chamado efetivo, implantando dentro deles uma nova capacidade moral e novos desejos, de modo que aceitem, inevitavelmente, o convite de Deus quando forem chamados (João 6.44-45; 10.1-5). É Deus quem inicia esse processo ao regenerar o nosso espírito e renovar o nosso coração (Deuteronômio 30.6; João 1.12-13; 3.5-8; Atos 16.14; Filipenses 2.12-13). Ele nos converte concedendo-nos a fé salvadora como meio infalível de obtermos a salvação (Atos 13.48; 1 Coríntios 1.22-31; Efésios 2.8-9; Filipenses 1.29; 130 5.20).

Por falar em regenerar o nosso espírito, vamos abrir um parêntese aqui e falar um pouco sobre regeneração. O termo regeneração, equivalente a "nascer de novo", é um termo técnico que se refere à revitalização que Deus opera numa pessoa implantando em seu interior novos desejos, propósitos, bem como, a capacidade moral que conduz a uma resposta favorável ao evangelho de Cristo. A palavra "regeneração" é derivada do termo grego “palingenesis” que é usado apenas duas vezes nas Escrituras. Em Mateus 1 9.2 8 Jesus se refere a uma "renovação" do universo em sua segunda vinda corno “palingenesis”. Nesse caso, o termo indica uma "segunda gênese" ou “segundo começo” para o universo, e não a renovação individual que costuma ser associada ao termo teológico "regeneração". Na outra passagem, Paulo descreve o batismo como "o lavar regenerador" (Tito 3.5). Apesar de haver quem considere essa expressão uma referência à recriação dos céus e da terra que se completará quando Jesus voltar, tradicionalmente entende-se que Paulo está falando de uma regeneração individual da pessoa batizada. Foi esse sentido posterior que os teólogos adotaram para o uso técnico do termo.

Jesus ensinou esse conceito a Nicodemos quando disse, "se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (João 3.3), indicando uma transformação muito mais profunda do que aquela exigida dos judeus para receber a vida eterna. A expressão grega traduzida como "nascer de novo" também pode significar "nascer do alto".

Segundo notas de rodapé da Bíblia de Estudo de Genebra sobre nascer de novo (João 3:3), o termo grego traduzido como "de novo" também pode ser interpretado como "do alto" ou "de cima". Essa tradução alternativa concorda satisfatoriamente com a discussão sobre as coisas "terrenas" e "celestiais" no v. 12, e também com a discussão sobre Jesus ter subido e descido, no v. 13; além disso, é empregada em outras passagens desse Evangelho (19.11,23). Por outro lado, o termo equivalente para 'regenerador" (Tito 3.5) favorece o sentido de "nascer de novo". Logo, é possível que Jesus estivesse sendo propositalmente ambíguo, sugerindo que o novo nascimento também é um nascimento do alto. Essa ambiguidade deu origem ao primeiro equívoco de Nicodemos (v. 4), que por sua vez motivou o restante da conversa.

Sobre nascer da água e do Espirito (João 3:5), essa frase enigmática induziu muitas discussões e várias propostas de solução. (1) 'Água" se refere à liberação do líquido amniótico que se segue ao nascimento físico. Porém, não há nenhuma outra passagem da Escritura em que a palavra "água" se refira ao líquido amniótico. (2) "Água" se refere à água que é usada no batismo cristão; porém, essa referência, que precedia a instituição desse ritual, não faria nenhum sentido para Nicodemos. (3) "Água" é uma referência às passagens do Antigo Testamento no qual o termo "água" e "Espírito" são unidos para expressar o derramamento do Espírito de Deus nos últimos dias ou final dos tempos (p. ex., Isaías 32.15; 44.3; Ezequiel 36.25-27). A menção dessa representação do Antigo Testamento, rica em simbolismos, explicaria a repreensão de Jesus no v. 10. (4) "Agua" se refere ao batismo de João que, tal qual o batismo cristão, significa a purificação dos pecados. Essa purificação está ligada à obra regeneradora do Espírito em SaImos 51.7-12 (cf. Tito. 3.5) e o Antigo Testamento menciona a água junto com a vinda do Espírito nos últimos dias. Essa opinião favorece a maioria dos paralelos do Antigo Testamento e faz mais sentido à luz da menção de João Batista nos caps. 1; 3.

É bem provável que Jesus tivesse os dois sentidos em mente. Por um lado, aqueles que estão mortos em pecado precisam receber uma vida nova pelo "nascimento espiritual"; num certo sentido, portanto, passam por um segundo nascimento. Por outro lado, assim como Jesus veio do céu (João 3.1 3), aqueles que entram no reino devem receber vida do Deus que está no céu (João 3.3,7). Como João expressa em outras passagens, precisamos "nascer de Deus" (veja João 1.13; 1Jo 3.9; 4.7; 5.1,4,18). Esse novo nascimento realizado pelo Espírito (João 3.8) vivifica as pessoas para as coisas de Deus e lhes dá uma nova vida para servir a Cristo.

De qualquer modo, podemos pensar na regeneração e em "nascer de novo" de modo bastante semelhante ao conceito neotestamentário de nova criação. A nova criação é uma realidade objetiva concretizada por Cristo. Quando indivíduos são ligados a Cristo pela fé nele, tornam-se parte da nova criação (2 Coríntios 5.1 7). Assim como Jesus falou da regeneração ("renovação") do universo (Mateus 19.28), é apropriado falar da regeneração ("renascimento") daqueles que estão em Cristo.

A visão reformada da regeneração pode ser destacada de outros pontos de vista em pelo menos dois sentidos. Primeiro, do catolicismo romano tradicional, segundo o qual a regeneração ocorre no batismo, um conceito conhecido como regeneração batismal. A teologia reformada afirma que a regeneração pode ocorrer em qualquer momento na vida de uma pessoa, até mesmo ainda no ventre materno (CFW 10.3) e, portanto não é o resultado automático do batismo (CFW 28.1,6).

Segundo, de outros ramos evangélicos da igreja para os quais o arrependimento e a fé conduzem à regeneração (isto é, as pessoas nascem de novo somente depois de exercitarem a fé salvadora). A teologia reformada, por outro lado, ensina que 'o pecado original e a depravação total privam todas as pessoas da capacidade moral e vontade de exercitar a fé salvadora. Por esse motivo, a regeneração antecede o arrependimento e a fé salvadora. Sem a regeneração, não podemos ver o reino de Deus (João 3.3). Depois que nascemos de Deus, recebemos a capacidade de crer em Cristo e segui-lo. A regeneração é realizada inteiramente por Deus o Espírito Santo -- não há nada que possamos fazer para obtê-la. Somente Deus ressuscita os seus eleitos da morte espiritual para a vida nova em Cristo (Efésios 2.1-10). A regeneração é uma obra miraculosa de Deus que nos leva à fé consciente, intencional e ativa em Cristo.

Voltando ao assunto do chamado efetivo, nem sempre Deus chama os eleitos dessa maneira na primeira vez que ouvem o evangelho; uma pessoa pode ser eleita e, ainda assim, rejeitar o evangelho por muitos anos. Quando isso acontece, os eleitos se comportam como todas as outras pessoas decaídas, rejeitando necessariamente o evangelho devido ao seu ódio por Deus e sua falta de capacidade moral de obedecer a ele. Muitas vezes, os cristãos pressupõem indevidamente que isso significa que o chamado interior e efetivo do Espírito Santo pode ser resistido. O chamado exterior por meio da pregação e do testemunho pode, de fato, ser resistido (Atos 13.45-46,49-51; 14.1-4). Na verdade, o chamado exterior sempre provoca resistência a menos que seja acompanhado do chamado interior efetivo. Mas o chamado interior do Espírito Santo sempre resulta em conversão.