quarta-feira, 27 de julho de 2016

Comunhão, onde encontrar?

E todos continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão, partindo o pão juntos e fazendo orações. (Atos 2:42)

Mais do que qualquer coisa, a igreja primitiva era uma irmandade. Alguém poderia questionar: “Como manter uma verdadeira irmandade sem um templo?” “Como a igreja se reunirá para adorar?” “Como poderá a igreja se organizar para a ação?”. Existem outras considerações a serem discutidas também, mas primeiro iniciaremos com a comunhão.

Parece que, pelo menos por algum tempo, os discípulos tiraram vantagem da grande área do templo para se reunir, mas isto se devia provavelmente mais ao testemunho para os que por ali passavam do que para o que normalmente conhecemos como adoração corporativa. Em Atos 5:12 há outra menção do uso do templo para reuniões. Contudo, isto foi logo lhes negado. A perseguição afastou a igreja de áreas públicas e foi necessário encontrar outros lugares para continuar em comunhão. Em um movimento alternativo, a igreja continuou a se expandir; ela não perdeu nada de sua natureza essencial. Se a comunhão da igreja tivesse sido baseada no padrão tradicional de hoje, ela provavelmente não teria resistido à perseguição.

A comunhão da igreja se dava em sua maior parte nos lares dos cristãos e aparentemente permaneceu principalmente como um movimento do lar por vários séculos. Apesar de parecer estranho, a "igreja no lar" fortaleceu os laços de comunhão ao invés do inibi-los. O lar sempre foi uma das mais fortes entidades da sociedade humana. Durante o tempo que a igreja teve sua base primária no lar, ela se manteve como uma força pungente. A igreja institucional serviu para enfraquecer ou destruir aquela forte base e a comunhão tornou-se algo separado do lar, ao invés de parte integrante do mesmo. A comunhão cristã dos dias modernos é em grande parte uma comunhão criada artificialmente, manifesta principalmente em cultos para apoiar os programas oficiais da igreja e manter as engrenagens da organização funcionando.

A comunhão do Novo Testamento não é algo criado artificialmente por planejamento ou programas. Tem que ser espontânea. Uma forma de descobrir se a verdadeira comunhão foi perdida é fazer um balanço e verificar quanta energia tem sido gasta em planejar e promover a comunhão. Se a igreja está gastando muito tempo planejando programas para atrair seu pessoal, promovendo concursos, realizando piqueniques e jantares para tentar avivar a associação à igreja, isto apenas indica que a comunhão está praticamente ausente. A verdadeira comunhão e o verdadeiro compromisso são "pássaros de mesma plumagem". Onde há compromisso verdadeiro, haverá comunhão. A comunhão nem sempre se expressa de formas tradicionais. A igreja moderna estereotipou a comunhão e o padrão oficial de comunhão possivelmente não atende às necessidades das pessoas. É por causa da esterilidade da igreja que muitos membros estão encontrando outras maneiras de ter comunhão. Há um rápido crescimento da igreja "alternativa". Os que compõem a igreja alternativa são membros de igrejas que geralmente são muito fieis no sentido tradicional, mas que adquiriram um compromisso espiritual com Cristo mais profundo do que os membros ordinários da igreja. Já que a maioria dos membros da igreja em qualquer denominação são um tanto “mornos” para dizer o mínimo, o desejo por uma comunhão mais profunda com cristãos comprometidos leva os novos membros comprometidos a se reunir em pequenas células de pessoas comprometidas.

A liderança da igreja geralmente encara com desfavor ou animosidade este tipo de movimento. Aceitá-lo como legítimo é admitir que a comunhão ordinária não seja o que deveria ser. A burocracia na igreja sempre foi lenta em reconhecer o que está errado com sua vida. Em especial, isto pode ser observado quando a igreja parece ser próspera e seu programa é executado de maneira altamente eficiente. “A aparência física pode ser altamente enganosa, especialmente em algo tão importante quanto religião. Evidências externas podem durar por um longo tempo mesmo depois de encerrada boa parte do poder de uma religião  massificadora.” Quem de nós gosta de admitir fracassos? No entanto, isto é o que a igreja alternativa, por sua própria existência, está comunicando para a igreja hoje.

O que é que os pequenos grupos de células da igreja alternativa têm que os cultos tradicionais de uma igreja não conseguem satisfazer? Parte da resposta reside na própria natureza da verdadeira comunhão. Comunhão é algo um tanto íntimo, espontâneo e desestruturado. Comunhão é um compartilhar íntimo e amigável de pessoas do mesmo pensamento. A verdadeira comunhão não pode ser baseada em relações impessoais. Por sua própria natureza, ela é imensamente pessoal. À medida que nossa comunhão com Deus se torna mais pessoal, o mesmo se dará em nossa comunhão com outros cristãos dedicados. Paulo em Colossenses 3:12-16 nos dá uma visão da intimidade do compartilhar: “Portanto, como eleitos de Deus, santos, e amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem.

Assim como o Senhor vos perdoou, assim também vos perdoai. E sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para qual fostes chamados em um só corpo, domine em vossos corações. E sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com gratidão em vossos corações.”

Os cultos de adoração na maioria das igrejas não satisfazem porque a comunhão tornou-se algo planejado e estruturado. A intimidade de um grupo menor é condutora para a verdadeira comunhão.

Eu posso dar testemunho pessoal a respeito do tipo de reuniões em célula, tendo participado de muitas no Brasil. Há certo aconchego em um grupo pequeno e íntimo que não pode ser replicado em uma grande assembleia mesmo com as mesmas pessoas participando. “Uma razão para a resposta gratificante do movimento de pequenos grupos nas igrejas é o contraste óbvio entre este movimento e promoção. Quando uma pessoa é levada a um pequeno circulo, devotado à oração e a um compartilhamento profundo de recursos espirituais, ela está bem ciente de que está sendo acolhida apenas pelo que é, já que o pequeno grupo não possui orçamento, não há oficiais preocupados com o sucesso de sua administração e nada para promover.”

Nos pequenos grupos de células, as pessoas vêm porque querem, não porque são coagidas a participar. Não existe um cronograma de atividades rígido. Logo as pessoas podem ir e vir conforme a necessidade, sem dificuldades. Uma reunião típica, sendo desestruturada, pode tomar várias formas. Pode evoluir para uma noite de oração intensa ou reservar boa parte para o estudo de uma escritura em particular ou o compartilhamento ao responder as questões de novos cristãos. O testemunho pessoal geralmente ocupa boa parte.

A maioria das igrejas não oferece mais tempo para testemunhos, possivelmente porque a maioria dos membros teria dificuldade de trazer algo "especial" na forma de benção para relatar.

Contudo, quando uma pessoa está andando com o Senhor em uma relação íntima maravilhosa, há sempre algo de interessante para contar. A célula também dá oportunidade para o compartilhamento de problemas e, de certa forma, serve como confessionário da Igreja. Tiago disse: "Portanto, confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tiago 5:16). Certamente a comunhão desta forma tão íntima promoverá o louvor através de cânticos, canções vindas do coração. Eu participei de grupos onde os cânticos continuavam por uma hora sem interrupção, fruto de pura alegria pelo louvor.

Que diferença do esquema "dois cânticos e uma oração" dos cultos de adoração da congregação típica!

Bibliografia:
Holmquist, Gerald. Pattern for Progress
Trueblood, Elton. The Incendiary Fellowship. Harper & Row, New York, 1967

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