segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Evangelismo sem poder de Deus

“O meu ensinamento e a minha mensagem não foram dados com a linguagem da sabedoria humana, mas com provas firmes do poder do Espírito de Deus” (1 Coríntios 2:4) 

Vou falar uma coisa séria sobre missões. Existe todo tipo de missões neste mundo, mas a maioria delas não é bíblica. Não necessitamos de mais missões. Deixe-me compartilhar algo com alguns de vocês que são novos missionários. As missões devem ser definidas pelo exegeta e pelo teólogo, isto é, pelo estudioso das Escrituras, não pelo antropólogo ou o sociólogo nem pelos “experts” em novas tendências culturais. Fazemos missões e evangelismo de acordo com as Palavras Sagradas da Escritura e não precisamos da ajuda de Wall Street.

Não temos o direito de diluir a afronta do Evangelho ou civilizar suas exigências radicais, com o objetivo de fazê-lo mais atrativo a um mundo caído ou a membros carnais da igreja. Nossas igrejas estão cheias de estratégias para fazê-las mais “amigáveis”, “desembrulhando” o Evangelho, removendo a pedra de tropeço e retirando o fio da navalha para que ele seja mais aceitável aos homens carnais. Nós devemos buscar ser “agradáveis”, mas devemos nos dar conta de que importa agradar somente a Um, e esse é Deus. Se nós estamos nos esforçando para tornar a nossa igreja e a nossa mensagem “adaptáveis”, então, devemos adaptá-las a Ele. Se estamos nos esforçando para edificar nossa igreja e nosso ministério, então, devemos edificá-los sobre uma paixão de glorificar a Deus e um desejo de não ofender a Sua Majestade. Não importa o que o mundo pensa de nós. Não estamos aqui para buscar as honras desta terra, mas sim as honras dos céus.

Outra coisa que quero mencionar. Nossa mensagem não é apenas escandalosa, ela é inacreditável. Eu quero que saibam disso. É uma mensagem inacreditável. Paulo, na carne, teria todas as razões para se envergonhar do Evangelho que ele pregava. E havia ainda outro motivo para ter vergonha carnal: o Evangelho é uma mensagem absolutamente inacreditável, um aviso absurdo para os sábios deste mundo. Como Cristãos, nós às vezes falhamos em perceber o quão assombroso é quando alguém crê em nossa mensagem. Em um sentido, o Evangelho é tão inverossímil que a sua propagação pelo Império Romano é prova da sua natureza sobrenatural.

O que jamais poderia atrair algum gentio, completamente ignorante quanto às Escrituras do Antigo Testamento e arraigado na filosofia grega ou em superstições pagãs, para que viesse a acreditar nessa tal mensagem sobre um homem chamado Jesus? Ele nasceu sob circunstâncias questionáveis, numa família pobre, em uma das regiões mais depreciadas do Império Romano e, ainda assim, o Evangelho reivindicou que Ele era o eterno Filho de Deus, concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem. Foi um carpinteiro de profissão, um mestre religioso itinerante sem qualquer instrução formal e, ainda assim, o Evangelho reivindica que Ele ultrapassada toda a sabedoria do filósofo grego e dos sábios romanos da Antiguidade. Foi pobre e não tinha onde repousar sua cabeça e, ainda assim, o Evangelho reivindica que, por três anos, Ele alimentou milhares pela Palavra; curou todo tipo de enfermidade entre os homens e até ressuscitou os mortos. Foi crucificado fora de Jerusalém como um blasfemador e um inimigo do Estado, e, ainda assim, o Evangelho reivindica que Sua morte foi o evento fundamental em toda a história da humanidade, e o único meio para a salvação do pecador e a reconciliação com Deus. Foi colocado em uma tumba emprestada e, ainda assim, o Evangelho reivindica que ao terceiro dia Ele ressuscitou dentre os mortos, apareceu a muitos de Seus seguidores e em quarenta dias ascendeu aos céus, assentando-se à direita da Majestade nas alturas. Assim, o Evangelho reivindica que um carpinteiro judeu e pobre, o qual foi rejeitado como um lunático e blasfemador pelo Seu próprio povo, e crucificado pelo Estado, é agora o Salvador do mundo, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, e, ao Seu nome, todo joelho se dobrará, incluindo os Césares.

Você tem alguma ideia de como é impossível para qualquer um, nos tempos de Paulo, crer nesta mensagem? É impossível! Quem jamais poderia ter crido em tal mensagem, senão pelo poder de Deus? Não há outra explicação. O Evangelho nunca poderia ter sido levado para fora de Jerusalém, muito menos ao Império Romano, e a toda nação deste mundo, a menos de que Deus tenha estabelecido que assim fosse. A mensagem teria morrido desde o momento de sua concepção, se tivesse dependido de habilidade organizacionais, eloquência, ou poderes apologéticos de seus pregadores. Todas as estratégias missionárias do mundo e todas as artimanhas astutas do mercado de Wall Street nunca poderiam ter feito avançar o Evangelho, o tropeço e a loucura do Evangelho. Martin Hengel escreve sobre o velho escândalo da cruz: “Crer que o único Filho pré-existente do único Deus verdadeiro, o Mediador na criação e o Redentor do mundo, tenha aparecido em tempos recentes, num lugar afastado da Galiléia, como um membro da obscura nação dos judeus, e, ainda pior, que tenha morrido a morte de um criminoso comum em uma cruz, somente poderia ser considerado como um sinal evidente de insanidade mental...”.

Essa verdade traz, ao mesmo tempo, um encorajamento e uma advertência para os que pregam o Evangelho. Primeiro, é um encorajamento saber que a simples proclamação fiel do Evangelho assegurará o seu avanço contínuo no mundo. Segundo, é uma advertência para que nós não sucumbamos à mentira de que podemos fazer avançar o Evangelho através de habilidades, eloquência ou engenhosas estratégias de crescimento de igrejas. Tais coisas não têm poder para produzir a impossível conversão dos homens. Nós devemos nos lançar, com desespero esperançoso, aos únicos meios bíblicos para fazer avançar o Evangelho: a ousada e clara proclamação de uma mensagem da qual não apenas nós não temos vergonha, mas na qual nós cremos e nos gloriamos, porque é o poder de Deus para a salvação de qualquer um que crer.

Concluirei dizendo isto: Nós vivemos em uma época incrédula e cética. Nossa fé é ridicularizada como um mito sem esperança, e somos vistos seja como fanáticos de mente fechada, seja como homens de mente fraca, vítimas de um engano religioso. Tal forma de ataque frequentemente nos coloca na defensiva e tentamos contra-atacar, e provar a nossa posição e a nossa relevância com a Apologética. Quero dizer isto: eu estou de acordo com a Apologética, mas, ainda que algumas formas dessa disciplina sejam muito úteis e necessárias, devemos nos entender que o poder ainda está na proclamação do Evangelho. Não podemos convencer um homem a crer mais do que podemos levantar os mortos. Tais coisas são a obra do Espírito de Deus. Os homens são atraídos à fé somente através da obra sobrenatural de Deus e Ele tem prometido trabalhar, não através da sabedoria humana, nem através de habilidades intelectuais, mas através da pregação de Cristo crucificado e ressuscitado dentre os mortos. Devemos encarar o fato de que nosso Evangelho é uma mensagem inacreditável. Não deveríamos esperar que alguém nos dará atenção, muito menos que crerá, sem uma obra graciosa e poderosa do Espírito de Deus. Quão desesperançosa é nossa pregação quando separada do poder de Deus! Quão dependente de Deus é o pregador! Todo nosso evangelismo é nada mais que uma incumbência de tolos, a menos que Deus toque nos corações dos homens. Não obstante, Ele tem prometido fazer justamente isso, se nós fielmente pregarmos o Evangelho.

Por Paul David Washer

 

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