Certo dia meu amigo me disse assim: “Eu tenho uma vida muito corrida,
mal tenho tempo para ir à igreja, como posso visitar meus irmãos?” Eu respondi:
Você deveria priorizar a visita à casa de seus irmãos. Se sobrar tempo, é que
você deveria à igreja. Ele ficou escandalizado.
Mas não deveria ficar escandalizado, pois a comunhão espontânea,
aquela que Cristo nos ensinou acontece nas casas, e não nos templos. Ao visitar
o irmão, podemos conhecer melhor suas necessidades e alegrias. É no lar que
temos mais liberdade para conversar, brincar, e compartilhar as bênçãos e as
derrotas. É nas casas que temos mais liberdade uns com os outros. Nos templos,
mal conseguimos cumprimentar o irmão, quando conseguimos. A comunhão não existe
ali, pois o contato é muito superficial. Muitos nem sabem o nome do outro e,
por causa disso, chamam simplesmente de “irmão”.
Quando examinamos o Novo Testamento, prestando atenção para o tipo de
comunhão evidente na igreja, nos impressionamos com o lugar proeminente que o
lar ocupava. Muitas das atividades da igreja eram centralizadas no lar, Quando
o Espírito Santo desceu com poder no dia de Pentecostes, Ele não veio sobre
algum lugar público onde os discípulos se reuniam, mas Ele encheu toda casa
onde estavam assentados (Atos 2:1-2). Após este acontecimento tremendo os
discípulos saíram para as ruas para falar à multidão que se reunia. O lar
continuou a desempenhar um papel proeminente na vida da Igreja. Os cristãos se
encontravam diariamente no templo mais provavelmente para a atividade
evangelística do que para a adoração. A adoração e comunhão pareciam ser
centralizadas mais no lar como está indicado pela notação em Atos 2:46: “Todos
os dias, unidos, se reuniam no pátio do Templo (para evangelizar?). E nas suas
casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade (para
comunhão?)”.
Há outras incidências que atestam o fato de que era prática comum
reunir-se em casa. A poderosa reunião de oração mencionada em Atos 4 foi
indubitavelmente realizada no lar de alguma pessoa: o lugar foi estremecido
durante a oração e eles foram cheios do Espírito Santo. Quando Pedro foi
milagrosamente liberto da prisão com a ajuda do anjo, ele imediatamente foi
para a casa onde João Marcos morava e encontrou um grupo reunido para oração
(Atos 12:12). Cornélio e sua família foram convertidos em uma reunião realizada
em sua casa, assim como também ocorreu com a família do carcereiro em Filipos.
Em todos os lugares por onde Paulo passou ele aproveitou a
oportunidade oferecida nas reuniões do "Sabat" nas sinagogas
judaicas. Através destes contatos muitos foram ganhos para o Senhor.
Entretanto, Paulo quase sempre era expulso das sinagogas porque a maioria dos
judeus se opunha aos seus ensinamentos. O que fizeram os convertidos ao serem
barrados nestes lugares? Eles se encontravam em suas próprias casas. Atos
18:4-7 nos dá uma pista. “E todos os sábados ele falava na sinagoga e procurava
convencer os judeus e os não judeus. Depois que Silas e Timóteo chegaram da
província da Macedônia, Paulo começou a dar todo o seu tempo para anunciar a
mensagem. Ele afirmava aos judeus que Jesus é o Messias. Mas alguns deles
ficaram contra Paulo e o xingaram. Então, em sinal de protesto, ele sacudiu o
pó das suas roupas e disse: — Se vocês se perderem, os culpados serão vocês
mesmos. A responsabilidade não será minha. De agora em diante vou anunciar a
mensagem aos não judeus. Então ele saiu de lá e foi morar na casa de um homem
chamado Tício Justo, um não judeu que adorava a Deus. A casa dele ficava ao
lado da sinagoga”.
Paulo continuou a pregar e falar publicamente onde quer que fosse
possível: nas sinagogas nos mercados, nos portões das cidades e qualquer outro lugar
onde ele poderia conseguir audiência. Este foi seu ministério evangelístico
contínuo. Mas ele também possuía um ministério de ensino para novos cristãos
quando estes se reuniam de casa em casa.
Seu ensinamento nos lares provavelmente não foi para famílias
individuais, mas destinado a pequenos grupos que se reuniam por toda cidade.
Estas células foram chamadas de igrejas diversas vezes nas escrituras.
Estas não eram igrejas no sentido institucional organizado dos dias modernos,
mas simplesmente grupos de cristãos se reunindo em casas para a ceia do Senhor.
Geralmente quando falamos da igreja, imediatamente visualizamos uma congregação
local organizada com seu templo ou a igreja como uma denominação. Mas o sentido
da palavra igreja é simplesmente “assembleia”. É nesse sentido que Paulo
utiliza o termo "igreja" em várias instâncias.
“As igrejas da província da Ásia mandam saudações. Áquila e a sua
esposa Priscila e a igreja que se reúne na casa deles mandam saudações cristãs
a vocês”. (1 Coríntios 16:19)
“Mandamos saudações aos irmãos que moram em Laodicéia. Saudações
também para Ninfa e para a igreja que se reúne na casa dela”. (Colossenses
4:15)
“Eu, Paulo, prisioneiro por causa de Cristo Jesus, junto com o irmão
Timóteo, escrevo a você, Filemom, nosso amigo e companheiro de trabalho, e à
igreja que se reúne na sua casa”. (Filemon 1:1-2)
Tenho firme convicção de que a igreja perdeu algo que era extremamente
desejável quando se separou do lar e foi para o templo. Há algo básico para a
verdadeira comunhão que é difícil reproduzir em um templo em sua condição de
organização atual. Conforme já mencionei, a comunhão é espontânea. O lar
oferece uma atmosfera que conduz à espontaneidade. A comunhão em seu sentido
mais profundo é também muito pessoal.
A igreja típica não oferece no seu programa a relação pessoal íntima
entre cristãos que é obtida na atmosfera do lar. Pode ser que os templos tenham
que ajustar seus programas para permitir que os cristãos se conheçam de uma
maneira mais pessoal em seus lares.
Bibliografia:
Holmquist, Gerald.
Pattern for Progress Trueblood, Elton. The Incendiary Fellowship. Harper & Row, New York, 1967
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