Mais do que qualquer coisa, a igreja primitiva era uma irmandade.
Alguém poderia questionar: “Como manter uma verdadeira irmandade sem um
templo?” “Como a igreja se reunirá para adorar?” “Como poderá a igreja se
organizar para a ação?”. Existem outras considerações a serem discutidas
também, mas primeiro iniciaremos com a comunhão.
Parece que, pelo menos por algum tempo, os discípulos tiraram vantagem
da grande área do templo para se reunir, mas isto se devia provavelmente mais
ao testemunho para os que por ali passavam do que para o que normalmente
conhecemos como adoração corporativa. Em Atos 5:12 há outra menção do uso do
templo para reuniões. Contudo, isto foi logo lhes negado. A perseguição afastou
a igreja de áreas públicas e foi necessário encontrar outros lugares para
continuar em comunhão. Em um movimento alternativo, a igreja continuou a se
expandir; ela não perdeu nada de sua natureza essencial. Se a comunhão da
igreja tivesse sido baseada no padrão tradicional de hoje, ela provavelmente
não teria resistido à perseguição.
A comunhão da igreja se dava em sua maior parte nos lares dos cristãos
e aparentemente permaneceu principalmente como um movimento do lar por vários
séculos. Apesar de parecer estranho, a "igreja no lar" fortaleceu os
laços de comunhão ao invés do inibi-los. O lar sempre foi uma das mais fortes
entidades da sociedade humana. Durante o tempo que a igreja teve sua base
primária no lar, ela se manteve como uma força pungente. A igreja institucional
serviu para enfraquecer ou destruir aquela forte base e a comunhão tornou-se
algo separado do lar, ao invés de parte integrante do mesmo. A comunhão cristã
dos dias modernos é em grande parte uma comunhão criada artificialmente,
manifesta principalmente em cultos para apoiar os programas oficiais da igreja
e manter as engrenagens da organização funcionando.
A comunhão do Novo Testamento não é algo criado artificialmente por
planejamento ou programas. Tem que ser espontânea. Uma forma de descobrir se a
verdadeira comunhão foi perdida é fazer um balanço e verificar quanta energia
tem sido gasta em planejar e promover a comunhão. Se a igreja está gastando
muito tempo planejando programas para atrair seu pessoal, promovendo concursos,
realizando piqueniques e jantares para tentar avivar a associação à igreja,
isto apenas indica que a comunhão está praticamente ausente. A verdadeira
comunhão e o verdadeiro compromisso são "pássaros de mesma plumagem".
Onde há compromisso verdadeiro, haverá comunhão. A comunhão nem sempre se
expressa de formas tradicionais. A igreja moderna estereotipou a comunhão e o
padrão oficial de comunhão possivelmente não atende às necessidades das
pessoas. É por causa da esterilidade da igreja que muitos membros estão
encontrando outras maneiras de ter comunhão. Há um rápido crescimento da igreja
"alternativa". Os que compõem a igreja alternativa são membros de
igrejas que geralmente são muito fieis no sentido tradicional, mas que
adquiriram um compromisso espiritual com Cristo mais profundo do que os membros
ordinários da igreja. Já que a maioria dos membros da igreja em qualquer
denominação são um tanto “mornos” para dizer o mínimo, o desejo por uma
comunhão mais profunda com cristãos comprometidos leva os novos membros
comprometidos a se reunir em pequenas células de pessoas comprometidas.
A liderança da igreja geralmente encara com desfavor ou animosidade
este tipo de movimento. Aceitá-lo como legítimo é admitir que a comunhão
ordinária não seja o que deveria ser. A burocracia na igreja sempre foi lenta
em reconhecer o que está errado com sua vida. Em especial, isto pode ser
observado quando a igreja parece ser próspera e seu programa é executado de
maneira altamente eficiente. “A aparência física pode ser altamente enganosa,
especialmente em algo tão importante quanto religião. Evidências externas podem
durar por um longo tempo mesmo depois de encerrada boa parte do poder de uma
religião massificadora.” Quem de nós
gosta de admitir fracassos? No entanto, isto é o que a igreja alternativa, por
sua própria existência, está comunicando para a igreja hoje.
O que é que os pequenos grupos de células da igreja alternativa têm
que os cultos tradicionais de uma igreja não conseguem satisfazer? Parte da
resposta reside na própria natureza da verdadeira comunhão. Comunhão é algo um
tanto íntimo, espontâneo e desestruturado. Comunhão é um compartilhar íntimo e
amigável de pessoas do mesmo pensamento. A verdadeira comunhão não pode ser
baseada em relações impessoais. Por sua própria natureza, ela é imensamente
pessoal. À medida que nossa comunhão com Deus se torna mais pessoal, o mesmo se
dará em nossa comunhão com outros cristãos dedicados. Paulo em Colossenses
3:12-16 nos dá uma visão da intimidade do compartilhar: “Portanto, como eleitos
de Deus, santos, e amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros,
perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem.
Assim como o Senhor vos perdoou, assim também vos perdoai. E sobre
tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus,
para qual fostes chamados em um só corpo, domine em vossos corações. E sede
agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós admoestando-vos uns aos outros,
com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com gratidão em
vossos corações.”
Os cultos de adoração na maioria das igrejas não satisfazem porque a
comunhão tornou-se algo planejado e estruturado. A intimidade de um grupo menor
é condutora para a verdadeira comunhão.
Eu posso dar testemunho pessoal a respeito do tipo de reuniões em
célula, tendo participado de muitas no Brasil. Há certo aconchego em um grupo
pequeno e íntimo que não pode ser replicado em uma grande assembleia mesmo com
as mesmas pessoas participando. “Uma razão para a resposta gratificante do
movimento de pequenos grupos nas igrejas é o contraste óbvio entre este
movimento e promoção. Quando uma pessoa é levada a um pequeno circulo, devotado
à oração e a um compartilhamento profundo de recursos espirituais, ela está bem
ciente de que está sendo acolhida apenas pelo que é, já que o pequeno grupo não
possui orçamento, não há oficiais preocupados com o sucesso de sua administração
e nada para promover.”
Nos pequenos grupos de células, as pessoas vêm porque querem, não
porque são coagidas a participar. Não existe um cronograma de atividades
rígido. Logo as pessoas podem ir e vir conforme a necessidade, sem
dificuldades. Uma reunião típica, sendo desestruturada, pode tomar várias
formas. Pode evoluir para uma noite de oração intensa ou reservar boa parte
para o estudo de uma escritura em particular ou o compartilhamento ao responder
as questões de novos cristãos. O testemunho pessoal geralmente ocupa boa parte.
A maioria das igrejas não oferece mais tempo para testemunhos,
possivelmente porque a maioria dos membros teria dificuldade de trazer algo
"especial" na forma de benção para relatar.
Contudo, quando uma pessoa está andando com o Senhor em uma relação
íntima maravilhosa, há sempre algo de interessante para contar. A célula também
dá oportunidade para o compartilhamento de problemas e, de certa forma, serve
como confessionário da Igreja. Tiago disse: "Portanto, confessai os vossos
pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados"
(Tiago 5:16). Certamente a comunhão desta forma tão íntima promoverá o louvor
através de cânticos, canções vindas do coração. Eu participei de grupos onde os
cânticos continuavam por uma hora sem interrupção, fruto de pura alegria pelo
louvor.
Que diferença do esquema "dois cânticos e uma oração" dos
cultos de adoração da congregação típica!
Bibliografia:
Holmquist, Gerald.
Pattern for Progress Trueblood, Elton. The Incendiary Fellowship. Harper & Row, New York, 1967
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